Taylor Swift declarou guerra à Apple. E venceu. O episódio começou no último domingo (21) com a publicação de uma carta aberta à empresa fundada por Steve Jobs. “Nós não pedimos iPhones de graça a vocês. Por favor, não peçam para que cedamos nossas músicas sem tipo algum de compensação”, protestou a artista.
A postagem diz respeito à contundente forma de funcionamento do serviço de streaming da “Maçã”, o Apple Music: todos que fizerem cadastro junto do app, que será lançado no dia 30 de junho com a atualização do iOS 8.4, poderão usar o serviço durante três meses, de graça. O trimestre de testes, por não cobrar taxa alguma, não renderia pagamentos aos artistas, fato este que motivou o manifesto da artista.
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Apple repagina sistema de pagamentos
“Acho [a nova política] chocante, decepcionante e completamente na contramão ‘da filosofia’ de uma empresa historicamente progressista e generosa”, emplacou Taylor. O depoimento da cantora, que foi publicado em seu Tumblr, não apenas chegou aos ouvidos da Apple: a empresa mudou seu sistema de pagamentos a artistas e publicou via Twitter uma série de mensagens acerca da reformulação do Apple Music.
Por meio do microblog, Eddy Cue, vice-presidente sênior do departamento de softwares da “Maçã”, explicou que o Apple Music agora vai fazer pagamentos a cantores mesmo durante os três meses de uso gratuito do app.
#AppleMusic will pay artist for streaming, even during customer’s free trial period
— Eddy Cue (@cue) 22 junho 2015
Segundo informa o Re/code, a Apple vai fazer o pagamento de uma quantia ainda não divulgada a partir das bases de streaming pelo trimestre gratuito – mais detalhes sobre a forma do contrato não foram ainda revelados. Em seu Twitter, Taylor Swift se disse aliviada e demonstrou satisfação face ao novo posicionamento da Apple; não se sabe ainda se o álbum “1989” será disponibilizado pela cantora via Apple Music.
I am elated and relieved. Thank you for your words of support today. They listened to us.
— Taylor Swift (@taylorswift13) 22 junho 2015
“Estou contente e aliviada. Obrigada pelas palavras de apoio de hoje. Eles nos ouviram”, escreveu a artista. A nova filosofia da empresa atende, é claro, as reivindicações de Taylor e também gera certa segurança a artistas independentes.
Leia na íntegra a carta de protesto publicada pela cantora:
À Apple, com amor
Estou escrevendo isso porque quero explicar o motivo da não publicação do meu álbum, o “1989”, junto do novo serviço de streaming, o Apple Music. Sinto que isso merece uma explicação, pois a Apple foi e vai continuar sendo uma das minhas melhores parceiras na venda de músicas e na criação de canais de aproximação entre eu e meus fãs. Respeito a companhia e as verdadeiras mentes engenhosas que criaram um legado baseado em inovação e na defesa de limites corretos.
Tenho certeza de que vocês estão cientes de que o Apple Music vai oferecer um período gratuito de testes de três meses para qualquer usuário que decidir acessar o serviço. Não sei se vocês sabem que o Apple Music não vai pagar compositores, produtores ou artistas durante esses três meses. Acho isso chocante, decepcionante e que vai na contramão de uma empresa historicamente progressista e generosa.
Isso não tem a ver comigo. Felizmente estou em meu quinto álbum e posso bancar a mim mesma, à banda, à equipe e todo o time de gestão fazendo shows ao vivo. Tem a ver com os novos artistas ou bandas que acabaram de lançar seu primeiro single e que não serão pagos pelo seu sucesso. Tem a ver com o compositor jovem que acabou de conseguir sua “primeira oportunidade” que pensou que os royalties iriam ser pagos. Tem a ver com o produtor que trabalha sem descanso para inovar e criar, assim como os produtores da Apple que são pioneiros em seus campos... Mas (sic) não serão pagos por um quarto de ano pela reprodução de suas músicas.
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Estas não são as lamentações de uma criança “perturbada ou mimada”. Estes são os sentimentos ecoados por todos os artistas, compositores e produtores de meu círculo social que estão com medo de falar em público porque admiramos e respeitamos muito a Apple. Nós simplesmente não admitimos esse tipo de “política”.
Percebi que a Apple está trabalhando rumo a uma nova direção nos serviços de streaming pagos. Acho que isso este é um progresso notável. Sabemos o quão astronômico tem sido o sucesso da Apple e sabemos que esta companhia incrível tem dinheiro para pagar artistas, compositores e produtores pelos três meses de teste... Mesmo que o período seja gratuito para quem está testando o app.
Três meses é um longo tempo para que nenhum pagamento seja feito, e pedir para qualquer um trabalhar por nada é injusto. Falo isso com amor, reverência e admiração por tudo o que a Apple tem feito. Espero que eu possa em breve me juntar ao modelo promissor de streaming que pareça justo com aqueles que criam músicas. Acho que o Apple Music pode ser a plataforma que pode fazer a coisa certa.
Mas digo à Apple com todo o respeito que ainda não é tarde para mudanças de políticas e também das mentes daqueles que, da indústria da música, serão profunda e gravemente afetados por isso. Nós não pedimos iPhones de graça a vocês. Por favor, não peçam para que cedamos nossas músicas sem tipo algum de compensação.
Ironia
Brincadeiras que se valem do embate entre Taylor Swift e Apple não tardaram a aparecer, naturalmente. Foi o caso da tirinha produzida pelos escritores do The Joy of Tech. Ao resgatar uma propaganda de 1984 da Apple, o quadrinho coloca um martelo na mão da cantora, que esmaga o monitor que exibe Tim Cook, CEO da Apple.
“1984” é uma referência direta ao romance ficcional de mesmo nome, de George Orwell. No mundo retratado pelo livro, traços de personalidade desaparecem e dão lugar a uma série de padrões, que vão da roupa até o idioma dos personagens. Abaixo, a tirinha bem-humorada de The Joy of Tech.
Tirinha que satiriza o comercial de promoção do Mac.
"Em 30 de junho, a Apple vai lançar seu serviço de streaming de músicas. E você vai ver que o '1989' de Taylor Swift ajudou a Apple a parecer que ele era de '1984'", diz a ilustração. A seguir, o velho comercial de introdução do Mac para referência.
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Vale lembrar que, em novembro de 2014, Taylor Swift retirou o “1989” do Spotify também por não concordar com as políticas de streaming do serviço. O Apple Music será lançado ao final deste mês como parte de uma vindoura atualização do iOS 8.4. Após o período de avaliação gratuita por três meses, a assinatura individual vai custar US$ 9,99; a “familiar”, para até seis pessoas, será taxada em US$ 14,99.
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