Um assunto que sempre teve espaço nas discussões sobre tecnologia, porém que também quase sempre é tratado com bastante ceticismo, é a questão das fontes de energia limpas ou renováveis. Isto é, a produção de energia usando fontes ilimitadas e que tenham o menor impacto negativo possível no meio ambiente.
Um dos maiores argumentos dizendo que isso nunca vai para frente é o de que esse tipo de desenvolvimento é caro e não atende aos interesses da indústria, que ainda gera muito dinheiro produzindo e vendendo energia a partir de combustíveis fósseis e usinas hidrelétricas, por exemplo.
Carros movidos à eletricidade e casas que possam se sustentar apenas usando energia solar parecem um privilégio dos ricos que podem pagar por esse avanço — e mesmo assim, de maneira limitada, já que ainda não existem modelos comerciais de casas 100% abastecidas dessa forma. Mas a verdade é que estudiosos estão cada vez mais certos de que o futuro vai trazer essa realidade para uma fatia bem maior da população; e que isso não vai demorar muito.
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O futurista Ray Kurzweil, por exemplo, crê que em aproximadamente 20 anos a energia solar será uma das maiores fontes de abastecimento mundial; ou pelo menos que o potencial para isso vai existir. Segundo o especialista, a produção desse tipo de energia tem dobrado a cada ano e os custos estão caindo, mas existe muito no caminho até que isso seja uma realidade.
Medidas impopulares
Não é difícil perceber que, para que o avanço de fontes limpas de energia aconteça, o mercado vai precisar mudar; e não é pouco. Por enquanto, existem duas posturas comuns para empresas desse ramo: ou elas estão abraçando as mudanças e investindo em pesquisas nessa área ou elas estão tentando impedir esse desenvolvimento a qualquer custo.
Segundo Kurzweil, este segundo perfil de empresas precisa se adaptar ou vai acabar tendo que fechar as portas, já que ele acredita que a mudança para a energia limpa (principalmente solar) é um caminho sem volta e uma realidade no futuro. O especialista aponta que isso tende a melhorar a economia e é um avanço para o meio ambiente.
A princípio, parece completamente utópico imaginar que em duas décadas pode não ser mais necessário usar combustíveis fósseis (como o petróleo) ou usinas que causam grande impacto ambiental, mas diversas medidas já estão sendo tomadas para garantir que isso aconteça.
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Carro sendo recarregado na rua, em Rotterdam
Na Noruega, por exemplo, os carros elétricos possuem vagas especiais na rua e podem ter a bateria recarregada gratuitamente em diversos pontos da cidade de Oslo. Esse tipo de incentivo, que acontece em outros países também, visa atrair mais pessoas para o uso desse tipo de veículo; quem não vai querer poder andar com o seu carro praticamente de graça?
Em contrapartida, no entanto, esse tipo de progresso realmente é tratado como uma ameaça por empresas que têm muito a perder com isso. Por se tratar de companhias gigantes e que possuem braços dentro dos governos e muito dinheiro disponível, atualmente eles parecem estar ganhando.
Nos Estados Unidos, por exemplo, alguns estados cobram a mais pelo fornecimento de energia para casas que tenham instalado painéis solares. Essa taxa foi aprovada em lei devido à pressão de grupos que poderiam perder muito dinheiro se a moda desses painéis pegasse. Segundo Ray Kurzweil, no entanto, isso é inevitável.
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O especialista aponta que, mesmo com a resistência do mercado, países como a Alemanha, China e Japão já usam energia solar em uma escala comercial e os preços, nesses países, já são bem competitivos. Para que essa mudança chegue ao resto do mundo, faltam incentivos e avanços tecnológicos, que tendem a chegar nos próximos anos.
O que ainda está faltando?
Painéis solares, atualmente, ainda não dão conta de ser a fonte de energia de uma casa em 100% do tempo, já que em muitos locais o sol pode demorar dias para aparecer; não seria interessante se a “bateria” da sua casa simplesmente acabasse. O desafio para o futuro é conseguir driblar justamente isso.
Outras fontes de energia limpa encontram obstáculos semelhantes. As usinas eólicas (movidas a vento), por exemplo, são incrivelmente ruidosas e precisam ser instaladas em grandes áreas abertas e isoladas, sendo que poucos locais são realmente viáveis para essas estruturas.
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Os estudiosos acreditam que em 20 anos a tecnologia terá vencido a maior parte desses desafios, permitindo cada vez mais que as pessoas abandonem as fontes tradicionais — mais caras e não renováveis — e comecem a aderir a uma realidade na qual a energia é um bem gratuito e, teoricamente, ilimitado.
O impacto dessa mudança
A longo prazo, quem mais vai se beneficiar com essas novas tecnologias será o meio ambiente, porém o impacto social será enorme também. Da mesma forma como em outras grandes mudanças tecnológicas, muitos empregos ficarão obsoletos — porém, a promessa é que milhares de outras vagas surjam e que a economia não saia perdendo.
Com energia ilimitada e gratuita — ou a preços realmente baixos —, diversas limitações econômicas são ultrapassadas e setores como a agricultura, por exemplo, podem crescer tecnologicamente. Fazendas verticais, no meio das cidades, podem se tornar uma realidade, fazendo com que produtos orgânicos e mais saudáveis fiquem cada vez mais baratos.
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Exemplos como esse não faltam para os estudiosos e ativistas da produção de energia limpa. Além disso, a energia solar usada é realmente uma fonte ilimitada: segundo estudos, mesmo que o mundo inteiro adote esses painéis de coleta, bem menos de 0,01% da capacidade solar será usada.
Se essa mudança realmente ocorrerá em 20 anos ou não, ainda é cedo para afirmar. Porém, é bom lembrar que há 20 anos, por exemplo, a tecnologia responsável por popularizar os telefones celulares estava engatinhando e ninguém podia imaginar que atualmente qualquer pessoa poderia ter um aparelho desses — hoje existem mais telefones móveis do que pessoas no mundo.
Ou seja, as previsões de Ray Kurzweil para uma era de energia ilimitada e sustentável podem soar como utópicas demais e até absurdas — quem pode imaginar nunca mais ter que pagar para abastecer o carro? —, mas são totalmente possíveis e podem ser uma realidade em algumas décadas.
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