Eis um exemplo bastante claro de como a tecnologia usada para desenvolver jogos de video game pode influenciar e colaborar em muito com a ciência do “mundo real”. Marek Rosa, o CEO da produtora Keen Software House – que criou games como Space Engineers e Medieval Engineers –, finalmente decidiu realizar seu sonho de adolescência: pesquisar os mistérios da inteligência artificial.
Rosa, que acabou seguindo o rumo dos jogos por causa do gosto pela programação e pelos resultados mais imediatos tanto profissionais quanto financeiros, acumulou dinheiro suficiente para dar início ao tão sonhado estudo da IA. Além dos US$ 10 milhões do próprio bolso que está investindo nessa empreitada, o embrião de toda a teoria também veio de seus games.
)
Máquinas inteligentes
Conhecida como inteligência artificial geral (AGI, de Artificial General Intelligence), essa tecnologia é frequentemente confundida na indústria dos games com inteligência artificial de fato, mas são duas coisas diferentes, conforme Rosa explica. Um jogo que usa AGI possui uma “inteligência roteirizada” e parece inteligente por realizar ações diferentes e inesperadas, mas não trabalha com adaptabilidade. Além disso, a AGI pode ser limitada pelo programador do jogo, o que não deixa espaço para uma real autonomia, o que aconteceria na IA.
Independentemente disso, a AGI de Rosa surgiu em seus jogos, tanto nos inimigos quanto em parceiros controlados por computador, e é nisso que está se baseando sua nova empresa, ainda sem nome, que funciona desde o começo de 2014 atuando na pesquisa de IA. De acordo com os pesquisadores, o caminho natural da inteligência artificial geral é sair do mundo dos video games e avançar para áreas mais abrangentes, como negócios e indústrias em geral.
Marek Rosa, fundador da Keen Software House
Adestrando um computador
A base dos testes que vêm sendo feitos por sua equipe de cientistas é simples: criar uma série de AGIs, estimulá-los a realizarem diversas tarefas simples, premiá-los pelos resultados positivos e puni-los pelos negativos. É praticamente um adestramento virtual de dificuldade altíssima, mas que vem dando resultados surpreendentes. Assim como cães, as AGIs vão aos poucos tendo noção de seu ambiente e vão criando padrões que servem para ultrapassar obstáculos desenvolvendo um certo grau de autonomia.
O primeiro desafio ensinado a AGIs foi aprender a reagir em um jogo no estilo do Pong, o primitivo jogo de bate e rebate famoso no console Atari e em outros. Superar esse obstáculo era apenas uma questão espacial: entender os padrões de movimento e reagir de acordo. Quando o computador conseguia rebater a bolinha, era recompensado. Se errasse, era punido. Dessa forma, a IA rapidamente descobriu um meio de não mais perder nenhuma jogada.
Encarando tarefas mais complicadas
O passo seguinte já foi muito mais complexo: fazer uma AGI navegar por um labirinto e encontrar meios de abrir portas que eram liberadas através de interruptores. Depois de ações aleatórias por parte do computador, que não fazia ideia de como as coisas funcionavam naquele ambiente, o sistema de prêmio e castigo fez efeito novamente e as interações com o espaço começaram a fazer sentido, até que a AGI aprendeu a acionar as chaves que abriam as passagens. Confira esse teste no vídeo abaixo.
Mas qual é o objetivo de todas essas pesquisas e testes com inteligência artificial? Empregá-la em mercados diferentes, em negócios ou indústrias que possam usá-la para aperfeiçoar e tornar práticos processos de certo modo simples, pelo menos inicialmente.
O futuro está logo ali
Rosa afirma que poderíamos começar aplicando a AGI em carros para que pudessem se movimentar por aí sozinhos, sem a necessidade de um motorista humano. O cérebro automobilístico artificial iria aprender, por meio de recompensa e punição, as regras básicas que governam o deslocamento de um veículo através das pistas apropriadas para tal. Ele conheceria a importância (e a fragilidade) dos pedestres, saberia identificar o que é rua e o que não é e como se relacionar com outros carros e objetos no caminho.
A partir daí, não é necessário ir muito longe para afirmar que muitas outras funções poderão ser substituídas pelas AGIs. O problema é que só enxergamos empregos para inteligências muito mais avançadas do que as que existem hoje e um dos objetivos de Rosa é encontrar utilidade para AGIs ainda não tão desenvolvidas. Com o que um computador que sabe jogar Pong sozinho e abrir portas de um labirinto em um video game pode contribuir para a nossa sociedade?
)
Por enquanto, com os próprios jogos, por que não? O desejo inicial do desenvolvedor é aplicar seus parceiros de pesquisa na melhoria de seus games, como o Space Engineers e o Medieval Engineers. A experiência da AGI dentro deles vai dar um feedback fantástico para a inteligência através de tarefas simples dentro desses sistemas, como o treinamento de camponeses e seu título sobre Idade Média.
O domínio das máquinas!
A tecnologia desenvolvida pelo projeto de Rosa pode até chegar ao campo militar, tendo inclusive respaldo de grupos defensores dos direitos humanos, visto que isso poderia minimizar o envolvimento direto de pessoas com equipamentos e armas perigosas. É claro que aí entra uma porção de questões éticas que devem ser analisadas profundamente por quem estiver envolvido na empreitada.
)
Certamente, fãs de obras de ficção científica devem estar de cabelo em pé com essa história toda, afinal o receio de que máquinas possam ficar mais inteligentes que as pessoas e, assim, tornar a humanidade obsoleta é ainda mais justificável. Tudo ainda está engatinhando na área da inteligência artificial, mas há uma perspectiva de que a autonomia completa possa ser atingida com tempo suficiente.
Caso isso realmente aconteça, todo cuidado é pouco e o mais importante, segundo o próprio Marek Rosa, é se preparar de antemão para qualquer eventualidade. Vamos aguardar para ver o que o futuro nos reserva.
Via BaixakiJogos.
)