Com os avanços constantes nas mais diferentes áreas de conhecimento – entre novas formas de energia, técnicas de produção de alimentos e grandes descobertas científicas –, as pessoas têm apostado cada vez mais na tecnologia como um todo. No caso de um casal tailandês, foi a perda de sua filha pequena que fez com que eles depositassem sua esperança na ciência e recorressem à criogenia para preservar o cérebro da menina. Falecida com apenas dois anos, ela se tornou a pessoa mais jovem da História a ser congelada por esse processo.
Matheryn Naovaratpong morreu no último dia 8 de janeiro, pouco tempo antes do seu terceiro aniversário, depois de um período desgastante de luta contra um tipo raro de câncer no cérebro. Sem resistir ao tumor agressivo, Einz – como foi apelidada pela família – deixou de lembrança apenas um quarto com seu berço, um suporte que permitia que ela andasse um pouco, alguns bichos de pelúcia e fotos de sua vida breve. O local foi transformado em uma espécie de santuário, adornado com estátuas budistas e um retrato da criança.
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Apesar da fé nas tradições religiosas, os pais se voltaram à tecnologia para tentar dar à garota mais uma chance de viver. "Assim que ela ficou doente, surgiu imediatamente a ideia de que deveríamos fazer isso por ela, por mais que seja impossível hoje", afirmou Sahatorn, pai de Einz à BBC, explicando que ficou receoso com o procedimento no início, mas resolveu concordar com a prática quando foi o momento certo. Tanto ele como a esposa, Nareerat, são engenheiros biomédicos e acreditam que futuramente pode ser possível salvar a menina.
“Como cientistas, temos 100% de confiança de que isso acontecerá — só não sabemos quando. No passado, poderíamos pensar que levaria 400 ou 500 anos, mas, agora, podemos imaginar que será possível em 30 anos”, analisa o tailandês. A expectativa é que avanços consideráveis na medicina – com técnicas que ainda serão desenvolvidas — possam lidar com o tumor mais facilmente. Para cuidar dos restos mortais da garotinha, a família Naovaratpong pesquisou diversas empresas especializadas em criogenia e acabou escolhendo a Alcor para a tarefa.
Tecnologia voltada à vida
A companhia em questão é uma ONG sediada em Arizona, nos EUA, e trabalha com métodos de extensão de vida há algum tempo. Para garantir que o corpo de Einz chegasse com segurança aos Estados Unidos e ela pudesse ser, de fato, sua 134ª paciente, a Alcor enviou uma equipe diretamente para a Tailândia quando a criança estava em seus últimos dias. Logo depois do óbito, o time coordenou o resfriamento inicial e substituiu os fluídos corporais naturais por um líquido anticongelante capaz de fazer os tecidos resistirem à longa viagem.
A técnica, chamada de crioproteção, deu todo o amparo para que o corpo da menina fosse de um país a outro sem problemas e possibilitou que tudo estivesse nas condições ideais para os passos seguintes do procedimento. Assim, logo depois que a garota chegou ao estado norte-americano, a operação se resumiu a separar o cérebro do restante dos materiais biológicos e congelá-lo à temperatura de -196 ºC. A ideia é que essa tecnologia possa preservar traços da personalidade da pequena para sua teórica segunda vida.
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Como os pais acreditam piamente nesse conceito, eles mesmos planejam que seus corpos sejam congelados quando morrerem, embora saibam que a chance de se reencontrarem com a meiga Einz é bem pequena. Antes disso, está nos planos da dupla ir aos EUA para visitar as instalações em que o cérebro da filha está sendo mantido e conferir de perto como funciona a biossuspensão – que mantém o órgão em um recipiente de aço selado. O casal também doou parte de seu dinheiro para pesquisas que estudam como combater o câncer na Tailândia.
Amor e ciência
Se por um lado tudo isso pode mostrar a confiança dos Naovaratpong na ciência, por outro também pode indicar o quanto eles estão sofrendo com a situação e se agarrando a qualquer chance de ter a filha de volta. "Foi nosso amor por ela que nos levou a este sonho da ciência", comentou Sahatorn durante a entrevista para o portal britânico. O engenheiro confessou ainda que, mesmo lutando para serem fortes, ele e a esposa se comportaram como qualquer outra pessoa na mesma situação, chorando diariamente e ainda não aceitando a morte da menina.
Eles e outros parentes estão montando um grande arquivo de vídeos e fotos da família e da própria Einz para que a garota possa saber como foi sua vida antes de ela precisar ter seu cérebro preservado em baixas temperaturas. A Alcor, por sua vez, se compromete a cuidar desse material e ajudar, futuramente, na readaptação dos pacientes sob sua tutela. Ainda assim, é difícil imaginar como será a época que pessoas como a garotinha tailandesa e outros pacientes da ONG vão acordar – se despertarem – e o choque que isso pode trazer a eles.
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A empresa especializada em criogenia, aliás, não garante uma segunda vida para seus clientes, deixando claro que tudo se trata de um grande experimento para evitar a “morte verdadeira” e permitir que tecnologias mais avançadas possam resolver problemas e doenças que, hoje, são considerados incuráveis. Como já era esperado, não há qualquer estimativa de tempo para que qualquer um dos integrantes desse tipo de projeto seja descongelado ou submetido a novos procedimentos médicos.
Ainda assim, Sahatorn e Nareerat se dizem confortáveis com a decisão tomada e parecem não se incomodar com coisas como ética, validade e aceitação da sociedade em relação ao procedimento. “Com certeza, nossa sociedade está avançando a uma nova forma de pensar em que isso será aceitável”, finaliza o pai. No fim, a crença na tecnologia pode ter fundamento para o casal, já que a pequena Einz e dois de seus três irmãos só nasceram graças à fertilização in vitro. Será que a ciência consegue dar um renascimento à criança?
Menina tailandesa é a pessoa mais jovem do mundo a ser congelada por criogenia. Comente sobre o caso emocionante no Fórum do TecMundo!
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