A comunicação é uma dança que nunca é dançada sozinha, e é por isso que a entendo como habilidade de se relacionar com nosso entorno. Assim como uma dança, a comunicação é o som, o movimento, o toque, é o fio (nada invisível) que mantém a conexão entre duas ou mais pessoas.
Nos comunicamos com o olhar, com o corpo, com a fala. Inclusive, o som e intensidade de uma respiração comunica por nós.
Durante esses anos com a DeÔnibus e em conversas sobre o desenvolvimento da comunicação pessoal, percebi algumas crenças limitantes ou mitos. São eles:
Mito 1: pessoas extrovertidas se comunicam melhor
Pessoas extrovertidas podem se sentir mais confortáveis e ter mais naturalidade para expressar suas ideias, inclusive com interlocutores desconhecidos, mas isso está longe de ser uma regra para se comunicar melhor que pessoas introvertidas, por exemplo.
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Todos os perfis conseguem desenvolver uma comunicação eficiente, com autoconhecimento, estudo e treino. Conhecer a si mesmo é essencial para que cada pessoa consiga ser autêntica e encontrar o melhor caminho para desenvolver tal competência de acordo com seu perfil.
Armadilhas comuns são pessoas introvertidas acharem que precisam se tornar expansivas para ganhar espaço e pessoas extrovertidas acharem que se comunicam com eficiência por não terem medo de falar em público: vamos quebrar essas crenças e paradigmas.
Mito 2: é preciso dominar gramática e a norma culta para me comunicar bem
Ter o domínio da gramática e norma culta não significa, necessariamente, ter uma comunicação eficiente.
Segundo Vivian Rio Stella, doutora em linguística, devemos olhar cada vez mais para uma linguagem que pense em contexto, sociedade, história e não somente as regras formais, muitas vezes inacessíveis e não inclusivas à população na totalidade.
A linguagem vai além das regras e traduz fenômenos sociais e expressões culturais que muitas vezes se manifestam na língua e são marcadas não oficialmente, como expressões, jargões, gírias e adaptações, como temos visto acontecer com a linguagem de gênero neutro (x, @, e). Ser correto gramaticalmente, ou não, é um artifício que a sociedade criou para atender a alguma necessidade de comunicação.
Mito 3: estou te ouvindo, logo estou te escutando bem
Ouvir o outro é algo que fazemos grande parte das vezes, em algum nível, afinal, é parte do processo mecânico da audição. Entretanto, a escuta vai além; envolve a presença intencional na mensagem que está sendo passada, atenção, assimilação do conteúdo antes de concordar, discordar ou se posicionar.
É comum que a atenção vá para outro lugar quando alguém começa a falar. Pensamos no que achamos sobre o tema, sobre como podemos responder; que parte da história que está sendo contada nos leva a lembranças particulares, quando será nossa hora de falar, entre outros.
Na comunicação a linguagem corporal é importante e, por isso, é essencial também observarmos as expressões corporais de quem escuta.
Para evoluirmos o "ouvir" para o "escutar", é necessário entender a escuta como um ato ativo, que requer prática, para tornar-se um hábito e para que então cumpra sua essência de ser intencional, genuína. Quando conversamos fazendo mais atividades ao mesmo tempo, como ler mensagens no celular, escrever um e-mail ou escolher o que comer do cardápio, não estamos com atenção 100% na conversa e as chances são enormes de termos ruídos de comunicação nesse momento.
Precisamos nos concentrar no que a outra pessoa está falando sem dividir a atenção, tirar as dúvidas e mostrar interesse. E não é preciso questionar o tempo todo para mostrar que está ouvindo, podemos fazer isso através de expressões corporais e pelo contato olho no olho.
Mito 4: as pessoas não entendem porque não querem
Como falamos na abertura do artigo, a comunicação não é via de mão única. Uma vez que rotulamos uma comunicação malsucedida com um julgamento sobre o outro, perdemos a oportunidade de buscar novos caminhos, evoluir nossa forma de passar uma mensagem e empatizar com o interlocutor.
Se há uma falha de comunicação, podemos avaliar o quão adequados estamos na nossa comunicação, se nos preparamos suficientemente para a conversa e, então, identificar os ruídos para contorná-los de maneira assertiva, retomando a conexão com nosso interlocutor.
Uma dica que pode ajudar também a evitar ruídos ou desentendimentos é perguntar o que a outra pessoa entendeu do que foi passado e trabalhar com uma síntese do que foi dito. Assegurar que o objetivo da comunicação foi cumprido cabe a todos nós e é uma atitude que exige mais autorresponsabilidade e menos culpabilização ou julgamento externos.
Mito 5: o importante é o que eu falo
A comunicação é composta de diversos tipos interligados, e apenas um deles é a fala. Não é importante apenas o que se fala, mas como se fala.
A consistência e harmonia entre uma escuta ativa, poder de síntese, tom de voz, comunicação verbal e linguagem corporal é essencial para uma comunicação eficiente e genuína.
Se falamos algo sério e nosso corpo passa outra mensagem, é inconsistente. Se falo que estou bem, com uma voz brava e trêmula, por exemplo, é inconsistente. Se não escuto ativamente outra pessoa e faço um discurso "lindo" sobre algo que não tem relação ao que foi dito, é inconsistente, e inconsistência gera desconfiança e desconexão.
Assim como a linguagem corporal de quem fala é importante, é essencial também observarmos as expressões corporais de quem escuta. Isso, entre outros sinais, nos ajuda a entender se estamos sendo compreendidos, se o tom da comunicação está adequado e, claro, se estamos sendo consistentes.
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