No Festival de Cannes, as palmas são mais do que um gesto de cortesia — elas são uma linguagem própria. Ao final de cada sessão de gala no Grand Théâtre Lumière, o que começa como um aplauso tradicional pode se transformar em um verdadeiro espetáculo à parte: minutos e minutos de pé, a plateia ovaciona o filme que acaba de assistir.
E embora isso já faça parte do folclore do festival, a prática de medir a duração dos aplausos — com precisão quase cirúrgica — é um costume relativamente recente que se tornou símbolo da recepção calorosa (ou nem tanto) de uma obra. Afinal, como começou essa tradição de ovacionar os filmes por longos minutos?
As palmas são realmente cronometradas?
Essa tradição ganhou força na última década, à medida que jornalistas, agentes de vendas e assessores de imprensa passaram a cronometrar o tempo das ovações como uma métrica não oficial de aprovação. Em tempos de redes sociais e manchetes ávidas por curiosidades, os minutos de aplauso se tornaram um combustível poderoso para impulsionar campanhas de marketing e vender filmes ao redor do mundo.
O site Deadline, por exemplo, assumiu a tarefa de medir com cronômetro cada explosão coletiva de entusiasmo no Palais des Festivals. Inclusive, o contador é pausado durante discursos e retomando ao som de novas palmas. Ou seja, não estamos falando de apenas uma pessoa aplaudindo por vários minutos, mas de uma ação coletiva.
O que as palmas de Cannes significam para o filme?
Mas as palmas dizem mais sobre o momento do que sobre o futuro do filme. O que se mede ali é a emoção bruta, imediata, que uma obra é capaz de provocar em um público composto por críticos, cinéfilos, estrelas e representantes da indústria.
Foi assim em 2006, quando O Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro, encerrou a última noite do festival arrancando aplausos por 22 minutos — um recorde não oficial que permanece até hoje. Ainda que o filme tenha deixado Cannes sem prêmios, a recepção emocionada marcou um ponto de virada para a carreira do diretor, que viria a conquistar o Oscar anos depois.
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Outros casos célebres incluem os 20 minutos de Fahrenheit 9/11, em 2004, de Michael Moore, que acabou vencendo a Palma de Ouro naquele ano. Já Demônio de Neon (2016), de Nicolas Winding Refn, foi aplaudido por 17 minutos, mas saiu de mãos abanando.
Esses exemplos deixam claro: o tempo de palmas não é preditivo, mas performático. Não é raro que um filme ovacionado por longos minutos seja ignorado na cerimônia de premiação — como Amor Bandido, em 2012, que somou 18 minutos de aplausos, mas perdeu para Amour, de Michael Haneke.
Ao longo dos anos, a própria dinâmica das sessões em Cannes se transformou. Se antes os diretores apenas assistiam às reações em silêncio, hoje são frequentemente convidados ao palco para discursar, enquanto câmeras flutuam entre os rostos mais famosos da plateia. Essa encenação amplifica a comoção e pode estender o tempo de aplauso. Afinal, ninguém quer ser o primeiro a parar de bater palmas diante das lentes do mundo.
Filme brasileiro se destaca em 2025, mas é superado
Em 2025, Sentimental Value entrou para essa galeria ao ser ovacionado por 19 minutos, superando o filme brasileiro O Agente Secreto, que havia recebido uma aclamação de 13 minutos dias antes. Resta saber se a aclamação indicará um futuro brilhante para o longa, ou se será mais um caso em que o calor do momento não se traduz em troféus.
O primeiro indicativo acontece neste sábado, dia 24 de maio, com a entrega da Palma de Ouro. A honra do festival francês pode ser considerada até mesmo um termômetro para o Oscar do ano que vem. Será que teremos mais um longa brasileiro brilhando nas premiações?
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