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A história do liquidificador, um eletrodoméstico revolucionário até na saúde

Aparelho criado na década de 1920 era usado antes apenas para misturar bebidas, mas evoluiu com o tempo e hoje existe em vários tamanhos e formatos.

Avatar do(a) autor(a): Nilton Cesar Monastier Kleina

schedule06/11/2025, às 08:00

updateAtualizado em 06/11/2025, às 15:21

Um dos eletrodomésticos mais tradicionais de cozinhas domésticas ou até profissionais é um aparelho bastante simples. Trata-se do liquidificador, aparelho indispensável para o preparo de misturas, sobremesas, vitaminas e outros alimentos.

A trajetória desse tipo de produto é bastante curiosa e envolve empresários pioneiros, evoluções graduais e até uma participação na área da saúde. O História da Tecnologia, quadro do canal do TecMundo no YouTube, contou a trajetória completa dele em mais um episódio.

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Os equipamentos pioneiros

As batedeiras são consideradas as precursoras do liquidificador como equipamento de mistura de ingredientes, auxiliando um trabalho antes totalmente manual.

Em 1885, o inventor norte-americano Rufus Eastman registra a patente da batedeira elétrica, que usava um motor acoplado em uma mesa para bater ovos, cremes e bebidas em geral.

Já em 1911, uma empresa dos EUA chamada Hamilton Beach lança um motor elétrico "universal" em miniatura, usado em vários aparelhos domésticos para melhorar a eficiência.

Uma das aplicações mais populares foi o misturador de bebidas, que girava uma haste em alta velocidade dentro de um recipiente para criar milkshakes ou sodas e refrigerantes, que eram "feitos" na hora com a combinação de xaropes com água gaseificada.

Os primeiros liquidificadores

Em 1922, surge o trabalho de Stephen Poplawski, um engenheiro de origem polonesa e dono da Stevens Electric Company, em Chicago. Ele buscava uma dessas alternativas para criar misturas em máquinas de refrigerante.

Depois de vários experimentos, o protótipo que vira produto definitivo é o Hydro-mixer, considerado o primeiro liquidificador do mundo. Ele já tinha o funcionamento básico desse produto: um motor elétrico girando lâminas na parte de baixo de uma jarra fechada para misturar ingredientes.

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A primeira patente. (Imagem: Blenders Online/Reprodução)

A patente virou um sucesso, por enquanto só no meio industrial e de negócios, como restaurantes e lanchonetes. Em 1933, o Fred Osius faz melhorias no design original do aparelho, como melhorar a durabilidade das lâminas, e começa a torná-lo útil para as casas.

O “Miracle Mixer” já era capaz de triturar sólidos, misturar massas para assar ou até fazer comida para bebês. E ele recebeu outra modificação em 1937 do músico e empresário Fred Waring, que tinha formação como engenheiro.

Waring investe no aparelho de Osius e relança o produto, agora com um foco em nutrição saudável e bater ingredientes frescos, como frutas para o preparo de vitaminas ou smoothies. 

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Uma demonstração do Waring Blender. (Imagem: Reprodução/Conair Corporation)

Agora chamado de “Waring Blender”, esse foi o primeiro liquidificador com foco no consumidor, com forte marketing direcionado para donas de casa e um sucesso comercial.

Evolução do liquidificador ao longo do tempo

A partir desse ponto, o visual e o funcionamento do liquidificador estava definido e ele só ganha melhorias. Em 1937, o empresário W.G. Barnard, da empresa Vitamix, lança um modelo próprio chamado de “The Blender” com um jarro de aço inox, em vez de vidro transparente.

No fim da década, a Hamilton Beach começa a vender o Hydro-Mixer como um eletrodoméstico e vira outro grande nome do setor. Surgem na época também os modelos com variação de velocidade, escolhidas de acordo com a consistência que você deseja.

Assim como em outras indústrias, a evolução do liquidificador sofre uma parada obrigatória durante a Segunda Guerra Mundial e retoma a popularização depois.

Outro sucesso surge em 1946: a Oster compra a Stevens Electric e lança o modelo Osterizer — mais potente e especializado em transformar sólidos em purês e líquidos.

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O Osterizer. (Imagem: Reprodução/The Henry Ford Museum)

Três anos depois, a Vitamix lança um novo modelo de liquidificador em um meio que era então inédito. Esse foi um dos primeiros informerciais para a televisão, aqueles programas de publicidade de um produto, normalmente com demonstrações ao vivo no estilo Polishop ou Shoptime.

A partir deste ponto, a evolução muda de foco: novas gerações são lançadas pelas marcas clássicas e novas fabricantes, estabelecendo uma indústria bem concorrida. Os modelos se diferenciam por tamanho do jarro, potência do triturador, quantidade de velocidades e funções extras, mas com a mesma premissa básica.

O cenário brasileiro

Sem contar importações ainda raras, o liquidificador brasileiro nasce em 1944 por iniciativa de um inventor. Waldemar Clemente, dono da Walita e ex-funcionário da General Electric, cria uma versão baseada no modelo europeu desse tipo de equipamento: o Walita Neutron.

Esse foi o primeiro da categoria produzido em solo brasileiro e até o nome 'liquidificador' teria sido usado primeiro também por ele. Esse vira o termo em português pra esse eletrodoméstico em vez de uma tradução mais literal de blender, que seria 'misturador'.

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O Neutron. (Imagem: Reprodução/Walita)

A Walita foi comprada pela Philips no começo da década de 1970 e segue como marca dela até hoje para produtos de casa e cozinha.

Três anos depois, a também brasileira Arno lança um concorrente no país com lâminas bem potentes. O modelo fez tanto sucesso que foi exportado para outros países, inclusive na Europa.

Outros formatos

Para além do liquidificador doméstico e tradicional, variantes dessa tecnologia foram criadas em diferentes períodos da história e hoje são indispensáveis para muita gente:

  • Em 1950, o suíço Roger Perrinjaquet patenteou um misturador de alimentos em formato de uma vareta: o liquidificador de imersão, que no Brasil é chamado de mixer. Ele mudou o preparo de certos ingredientes em outros recipientes, além de ser compacto e versátil;
  • Em 1971, nasce o processador de alimentos, também compacto e poderoso para lidar com vários tipos e consistências de ingredientes. O criador é o francês Pierre Verdon, que idealizou o Le Magi-Mix. Porém, foi o estadunidense Carl Sontheimer que melhorou esse equipamento e lançou a variante para residências: o Cuisinart;
  • Em 2018, a Philips lançou o High Speed Connected, primeiro liquidificador inteligente do mundo para criar vitaminas personalizadas e ajudar no acompanhamento de dietas por um aplicativo;
  • No mesmo ano, nasce o BlendJet, pioneiro dos mini liquidificadores portáteis — muito usados para quem passa muito tempo fora de casa e prepara suplementos ou bebidas na hora.

O liquidificador é pop

Ao longo dos anos, esse tipo de aparelho foi muito além da cozinha. Em 1955, o médico e pesquisador Jonas Salk revoluciona a humanidade ao desenvolver uma vacina eficiente para combater a poliomielite.

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Salk com um liquidificador entre os itens de laboratório. (Imagem: Arquivo/Jane S. Smith)

A primeira mistura da vacina da polio, que incluía o vírus morto e soro injetável, foi criada em um liquidificador da Waring. Eles foram muito usados para misturar ingredientes e elementos em laboratórios, centrifugas e modelos mais voltados para a pesquisa científica agora são opções melhores.

Outra prova de como esse produto virou parte da cultura popular começou em 2006. Foi o 'Will it Blend?', uma campanha de marketing da Blendtec, que virou um fenômeno viral na internet.

No programa, um apresentador coloca qualquer objeto para bater em um liquidificador e ver o resultado depois. Esse tipo de vídeo em outros modelos, formatos e com outros aparelhos segue até hoje.

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