Nunca os brasileiros tiveram tanto afeto por uma rede social quanto com o Orkut — e vice-versa. E, em tempos de onda de fakes news e contas falsas se alastrando pelo WhatsApp, Instagram, Facebook e Twitter, nada mais justo que ouvir a opinião do próprio engenheiro que criou uma das plataformas mais amadas pelos tupiniquins: o engenheiro Orkut Büyükkökten falou à BBC Brasil e defende que “perfis e notícias deveriam ser banidos das redes sociais”.
Facebook já perdeu mais de US$ 100 bilhões em valor de mercado desde a explosão do escândalo da Cambridge Analytica
Bom, só para lembrar, o WhatsApp já foi utilizado recentemente na Índia para fomentar discursos de ódio e linchamentos por causa de acusações mentirosas; a Google vem mudando o algoritmo e buscando parcerias de empresas de comunicação, com o objetivo de diminuir a incidência de conteúdo enganoso; o Twitter chegou a pedir publicamente por ajuda para solucionar problemas criados por “abusos, assédio, trolls e a manipulação por robôs e humanos”.
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O pior foi o caso da rede de Mark Zuckerberg, que simplesmente vem perdendo mais de US$ 100 bilhões em valor de mercado desde a revelação do escândalo da Cambridge Analytica — o que obrigou a plataforma a realizar uma série de investimentos e medidas para evitar interferências durante processos eleitorais. Isso sem contar os vários casos de bots sendo utilizados para aumentar a popularidade no Instagram.
“Estamos criando uma geração infeliz e insegura”
“Os perfis e notícias falsas deveriam ser banidos. Estamos chegando a uma ponto em que não acreditamos em mais nada do que lemos”, diz Orkut Büyükkökten. “Na vida real, se você descobre que seu amigo mente o tempo todo, você vai querer continuar com essa amizade? Se você sabe que seu namorado está te traindo, você vai terminar o relacionamento. O mesmo vale para a internet. Não deveria ser permitido que alguém publique conteúdo falso e minta constantemente.”
O bullying e o assédio online estão levando as pessoas ao suicídio
Nos dez anos em que esteve ativo, o Orkut chegou a ter mais de 300 milhões de usuários ativos em todo o mundo, com maior público no Brasil e na Índia. O engenheiro acredita que a plataforma não sobreviveu “à demanda multitarefas” e ao ambiente que privilegia os dispositivos móveis — coisas imprescindíveis à nova geração.
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Com sua nova empreitada, o Hello, ele acredita que vem oferecendo uma iniciativa mais positiva. “As redes sociais estão sendo mal usadas e não é só na política. Estamos criando uma geração infeliz e insegura, que tem problemas de imagem corporal, depressão e ansiedade. O bullying e o assédio online estão levando as pessoas ao suicídio”, critica Orkut.
Humanos, máquinas e eleições no Brasil
"Antes, confiávamos nos jornais e revistas, porque eles faziam pesquisas antes de publicar alguma coisa. Mas checar fatos leva tempo. Hoje, as notícias acontecem tão rápido que a decisão sobre a exibição para os usuários de rede social é feita de forma automatizada, com base em algoritmos e inteligência artificial. Não há pessoas de verdade checando, e isso faz com que o público seja exposto a notícias falsas. É preciso um equilíbrio."
Pedimos diretamente que os usuários nos digam são seus interesses
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Sobre o caso da Cambridge Analytica, Orkut conta que o Hello não usa algoritmos para criar experiências customizadas ou explorar publicidade. “Pedimos diretamente aos usuários para que eles nos digam são seus interesses”, destaca o engenheiro, que condena o uso de dados de usuários sem o consentimento dos mesmos.
Para ele, o público gosta de conteúdo personalizado e é possível se beneficiar de propagandas que ajudem com seus hábitos, decisões sobre compra e planos. Mas se um anúncio é feito para mudar visões políticas ou afetar uma eleição, “um limite foi ultrapassado”.
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"As redes sociais têm poder para impactar uma eleição, contudo, não podemos dizer cientificamente se já conseguiram mudar seu rumo. Não é porque você vê o anúncio sobre um político que vai votar nele e não há garantia que isso vá afetar o resultado. Mas com certeza as redes sociais terão influência sobre a eleição neste ano no Brasil."
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