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A inteligência artificial não nasceu ontem — e é por isso que ela está mudando tudo

A IA nunca foi apenas sobre tecnologia, mas sobre a capacidade humana de traduzir curiosidade em código.

Avatar do(a) autor(a): Henrique Troitinho - Colunista

29/10/2025, às 15:00

A inteligência artificial não nasceu ontem — e é por isso que ela está mudando tudo

Um dos últimos livro que li — Artificial Intelligence Basics, de Tom Taulli (um autor e consultor de TI especializado em IA e suas aplicações em programação e negócios) — me fez perceber uma das coisas mais fascinantes relacionada à inteligência artificial: embora ela, atualmente, faça parte da nossa rotina é, na verdade, resultado de décadas de tentativas, erros e aprendizados.

Desde os anos 1950, cada avanço veio acompanhado de uma onda de entusiasmo, e logo depois, de uma crise. A IA é cíclica: nasce, empolga, decepciona, amadurece e renasce. O que vivemos agora é mais um renascimento e talvez o mais sólido de todos.

Tudo começou em 1950, quando Alan Turing, matemático britânico considerado o pai da ciência da computação e da inteligência artificial, publica o artigo Computing Machinery and Intelligence, propondo a pergunta: as máquinas podem pensar? É nesse texto que surge o Teste de Turing, até hoje usado como referência para avaliar a inteligência de uma IA.

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Poucos anos depois, em 1956, durante a histórica Conferência de Dartmouth — realizada no Dartmouth College, em Hanover, New Hampshire (EUA) — os cientistas John McCarthy (Dartmouth College), Marvin Minsky (Harvard University), Nathaniel Rochester (IBM) e Claude Shannon (Bell Telephone Laboratories) cunharam oficialmente o termo Artificial Intelligence.

A partir dali, a teoria virou prática. Vieram o Logic Theorist e o General Problem Solver (GPS), a base do que chamamos hoje de IA simbólica, um subcampo da IA que se concentra no processamento e na manipulação de símbolos ou conceitos, em vez de dados numéricos. Foi também nesse período que John McCarthy desenvolveu a linguagem LISP — fundamental para a pesquisa em IA — e surgiram os primeiros laboratórios dedicados ao tema, como o MIT AI Lab e o Stanford AI Lab. O otimismo era tanto que se acreditava em inteligência plena em poucos anos.

Mas a limitação técnica levou ao primeiro “inverno da IA”, nos anos 1970, reforçado pelo Relatório Lighthill (1973), que criticou a falta de resultados práticos. O entusiasmo só voltou na década seguinte com os sistemas especialistas — programas capazes de simular a tomada de decisão humana em áreas específicas, como o XCON, desenvolvido pela Digital Equipment Corporation (DEC) para automatizar o processo de configuração de computadores. A tecnologia mostrou, pela primeira vez, que a IA podia gerar ganhos reais de produtividade. Foi também nesse período que ressurgiram as redes neurais, impulsionadas pelo algoritmo de Backpropagation (1986).

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A euforia, no entanto, durou pouco: o segundo inverno (1987–1993) chegou quando os custos se tornaram insustentáveis e o mercado perdeu a paciência. Entre 1993 e 2005, veio o renascimento baseado em dados. O raciocínio simbólico deu lugar ao aprendizado estatístico, impulsionado pelo nascimento da internet.

Em 1997, o Deep Blue, supercomputador da IBM, derrotou o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, marcando o primeiro grande triunfo da IA sobre um ser humano. Na mesma época, surgiam algoritmos de aprendizado de máquina — como SVM, árvores de decisão e Bayes — que ensinavam as máquinas a reconhecer padrões e tomar decisões com base em dados. 

A partir de 2005, com o avanço das GPUs (placas gráficas mais potentes), tornou-se possível treinar redes neurais profundas em larga escala. Era o início da era do Big Data, quando empresas como Google e Amazon passaram a aplicar IA em sistemas de busca e recomendações personalizadas. 

Em 2012, o modelo AlexNet venceu a competição ImageNet, inaugurando o Deep Learning moderno — redes neurais capazes de aprender sozinhas a partir de grandes volumes de dados. Nos anos seguintes, vieram os assistentes virtuais — Siri, Google Now e Alexa — que levaram a IA ao cotidiano. O marco de 2016 foi o AlphaGo, da DeepMind, ao vencer Lee Sedol no jogo Go, mostrando que a IA podia superar o raciocínio humano em tarefas complexas e abrindo o debate sobre ética, transparência e impacto da automação.

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Desde 2020, entramos na fase da IA generativa e multimodal — capaz de criar textos, imagens, sons e códigos a partir de instruções simples. A arquitetura Transformer, desenvolvida pelo Google, deu origem a modelos como GPT, BERT e a ferramentas conhecidas do público, como ChatGPT, Midjourney, Copilot e Bard. O GPT-3 (2020), o GPT-4 (2023) e o recente GPT-5 (2025) trouxeram integração entre texto, imagem e áudio, inaugurando um novo patamar de interação entre humanos e máquinas — e levantando discussões urgentes sobre regulação, vieses algorítmicos e alinhamento ético (AI Alignment).

Quando olho para esse percurso, vejo um padrão: a inteligência artificial nunca foi apenas sobre tecnologia, mas sobre a capacidade humana de traduzir curiosidade em código. Cada “inverno” serviu para amadurecer a ideia e para preparar o próximo salto.

A diferença é que, desta vez, ela não depende mais de fé, ela entrega resultado mensurável. E talvez essa seja a maior prova de que a IA finalmente deixou de ser promessa para se tornar estrutura: não estamos assistindo ao nascimento da inteligência artificial, estamos apenas vivendo o momento em que ela se tornou adulta.



Profissional certificado pelo Google e a mais de 13 anos atua na área de negócios digitais e estratégia digital para marcas globais. Bacharel em Sistemas de informação pela Faculdade Rio Branco, hoje é o CEO da Score Media Marketing digital de Performance, empresa vencedora dos prêmios de Melhor Consultoria de negócios digitais 2016 (ABCOMM) , melhor performance de loja de nicho (Rakuten Awards 2017) e Melhor Agência de Marketing Digital pela Top Business Awards 2017. Participou de projetos como Aliexpress, Americanas, Shoptime (B2W), Supermercado Justo, KabuM!, Trocafone, Hughes, Supermercado Mambo, Creamy, Weleda, Santa Lolla, Grupo Seculus (Mondaine + Seculus), Hiroshima Catálogos, Sonepar (Dimensional), Agco (Fendt), TNG, Dpaschoal, Grupo Carrera e mais de 150 outras marcas.

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