No último domingo (6), o criador de conteúdo Goularte foi indiretamente citado em uma reportagem exibida pela Record TV, que associou seu vídeo sobre o jogo The Coffin of Andy and Leyley a um triplo homicídio qualificado ocorrido em Itaperuna (RJ). O caso, que envolve dois adolescentes de 14 e 15 anos como suspeitos, ganhou destaque nacional devido à sua natureza violenta e à suposta inspiração no jogo, segundo informações divulgadas pela polícia.
A matéria, veiculada no programa Domingo Espetacular, apresentou uma reconstituição dos fatos baseada em dados oficiais da investigação, mas incluiu especulações ao sugerir que o vídeo de Goularte teria funcionado como um “tutorial de assassinato" para os jovens envolvidos.
Intitulado “O jogo dos irmãos canibais”, o vídeo conta com mais de 2,8 milhões de visualizações e narra, com linguagem acessível e elementos de entretenimento, a história de um jogo fictício de terror psicológico, com dublagens de youtubers como Cellbit.
Diante da repercussão, Goularte falou sobre o caso em seu canal, e comentou sobre a possibilidade de processar a Record. Confira os detalhes, a seguir.
Especialista aponta possíveis violações e caminhos legais
No dia seguinte à exibição da reportagem, o advogado João de Senzi, especialista em Direito Digital, publicou uma análise jurídica do caso em seu canal. Segundo ele, Goularte pode recorrer à Justiça por danos morais, uso indevido de imagem e, principalmente, por violação de direitos autorais. O uso de trechos do vídeo sem autorização e fora de contexto teria comprometido a integridade da obra, configurando infração à legislação que protege o conteúdo criativo.
Senzi também destacou que, apesar da censura visual e sonora aplicada pela Record TV, o vídeo foi rapidamente reconhecido por usuários nas redes sociais, o que enfraquece qualquer argumento de anonimização.
Ele ainda citou um caso anterior envolvendo a mesma emissora, em que um vídeo educativo foi deturpado e acabou gerando condenação por danos morais. Em sua visão, a transformação de uma análise narrativa em algo que se assemelha a um “manual de crime” extrapola os limites da crítica jornalística.
O advogado também ressaltou que, caso o vídeo de Goularte fosse removido da plataforma por pressão ou alegações indevidas, haveria possibilidade de acionar a Justiça para restaurar o conteúdo. Para ele, esse episódio reforça a importância de compreender o contexto de obras de ficção e manter o debate público distante de julgamentos apressados e coberturas sensacionalistas.
Posicionamento de Goularte reforça críticas ao sensacionalismo
No mesmo dia da publicação do vídeo de Senzi, Goularte também se pronunciou sobre o caso. Em sua resposta, o youtuber afirmou que a reportagem da Record TV distorceu os fatos e o apresentou injustamente como influência no crime. Ele criticou o enquadramento do vídeo como um suposto “tutorial” de assassinato e defendeu o caráter ficcional e narrativo de seu conteúdo, voltado ao entretenimento e à análise de enredo.
Segundo Goularte, o jogo The Coffin of Andy and Leyley é um RPG com temas pesados, voltado exclusivamente ao público adulto. Para o criador, o verdadeiro problema está na tentativa de simplificar causas complexas de violência, como traumas, negligência familiar e transtornos psicológicos, transferindo a responsabilidade para a cultura gamer.
Por fim, o youtuber informou que está consultando advogados para avaliar medidas legais contra a emissora, tanto por prejuízos à sua imagem quanto pelo uso indevido de seu conteúdo. Em seu vídeo, também fez um apelo ao público, especialmente a pais e responsáveis, para que desenvolvam uma leitura crítica sobre o que consomem na mídia, e que evitem conclusões precipitadas baseadas em narrativas alarmistas e mal fundamentadas.
Advogado entrevistado pela Record esclarece posicionamento e fala sobre jogos violentos
Após a repercussão da reportagem exibida pela Record, o advogado Luiz Augusto D’Urso, entrevistado pela emissora, publicou um vídeo nesta quarta-feira (9) para esclarecer seu posicionamento. Ele afirmou ter sido procurado por seguidores de Goularte e enfatizou que não defende a proibição de jogos violentos, tampouco a responsabilização direta de criadores de conteúdo. Para D’Urso, esses jogos são formas legítimas de expressão artística, comparáveis a filmes e outras mídias, e não devem ser tratados como incentivadores automáticos de violência real.
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Por outro lado, o advogado demonstrou preocupação com o acesso de menores a conteúdos sensíveis, reforçando a importância da classificação indicativa. Ele citou o caso do jogo envolvido no crime, The Coffin of Andy and Leyley, anteriormente distribuído com recomendação para maiores de 14 anos – e, segundo ele, deveria ter restrição para públicos acima de 16 ou 18 anos.
Possivelmente após a repercussão da reportagem da Record, a Steam realizou a mudança da classificação de The Coffin of Andy and Leyley para 18 anos, sinalizando temas como “Violência Extrema” e “Atos Criminosos”. Nesse contexto, D’Urso defende uma atuação mais firme do Estado e dos órgãos responsáveis na regulação de conteúdos digitais, com foco na proteção da infância e adolescência.
Para o advogado, falando das redes sociais, os criadores que compartilham jogos com cenas violentas devem ser mais rigorosos na sinalização de idade, sob risco de descumprirem as diretrizes das plataformas e exporem crianças a materiais inadequados. Em vez de adotar medidas punitivas generalizadas, D’Urso defende o fortalecimento da educação digital, da mediação parental e da fiscalização das plataformas como caminhos mais eficazes para garantir o acesso seguro à cultura dos games.
Durante a redação deste texto, o vídeo “O jogo dos irmão canibais” de Goularte não está restrito a adultos no YouTube. No entanto, há um aviso de conteúdo “inconfortável” aos 3 minutos e 32 segundos do material, sem especificar a gravidade dos temas em mais detalhes.
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O Voxel entrou em contato com Goularte para mais comentários sobre o caso; até o momento da publicação, o YouTuber não retornou. A matéria será atulizada, caso surjam novas informações.
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