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Review: Skate Story é poesia entre ollies e demônios

Novo jogo da Devolver Digital traz uma abordagem singular sobre o skate para jogadores do PC, Switch 2 e PS5

Avatar do(a) autor(a): Eddy Venino

schedule08/12/2025, às 14:00

updateAtualizado em 08/12/2025, às 14:03

Review: Skate Story é poesia entre ollies e demônios

Um relato pessoal, por mais íntimo que seja, quando externado, pode trazer emoções a outras pessoas através das vivências expostas. E isso é o que Sam Eng pretende - e consegue - realizar com o lançamento de seu jogo sobre skate, que demorou mais de seis anos para ser produzido.

Skate Story, desenvolvido por Sam Eng e publicado pela Devolver Digital, não leva esse nome por acaso, pois não é apenas um jogo de skate qualquer, mas sim uma obra que pretende contar uma história que eleve a sensação de estar sobre um shape com rodinhas.

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Anunciado há algum tempo pela Devolver, Skate Story sempre me chamou atenção, mas eu não estava preparado para o impacto que aquelas oito horas de jogatina teriam em mim.

Como um redator que escreve sobre games, quando um jogo chega para review, você pode escolher jogar e escrever sobre aquilo ou pode ser escolhido pelo seu editor para esse trabalho. Embora eu estivesse de olho em Skate Story, foi uma escolha do meu editor que eu fizesse um texto sobre esse jogo e não minha…

Mas ainda bem que ele me escolheu :)

Já adianto que Skate Story não é nada do que eu esperava. E isso é muito positivo!

Como disse no início do texto, esse jogo é uma obra bem pessoal, criada por Sam Eng. O que experimentei nessa jornada foi solitude, crença num sonho, construção de rede de apoio, questionamentos existências, poesia e, é claro, muitas manobras de skate. 

É realmente uma história de skate, onde nenhum elemento é utilizado por acaso. E isso começa através do que se pretende contar com o jogo.

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Skates podem contar histórias?

Skate Story é mais sobre palavras do que sobre executar um ollie perfeito. Mas fique tranquilo, você ainda irá manobrar até a exaustão adentrando o inferno. Entretanto, a narrativa de Skate Story te leva a uma viagem de reflexão sobre quatro rodinhas.

Na história elaborada por Sam Eng, incorporamos um demônio que deseja descansar. Isso mesmo, ele queria apenas dormir. E para atingir seu objetivo ele assina um contrato com o Diabo.

Seu pacto lhe concede um skate, com a finalidade de ajudá-lo a atravessar as camadas do inferno e comer Luas em cada uma delas - num total de sete.

O demônio, antes uma forma emaranhada de fios, agora está recoberto de vidro e começa a ser chamado de Skatista de Vidro. Para guiá-lo em sua jornada, uma coelha chamada Rabbie vai a frente lhe alertando sobre os desafios que irá enfrentar.

Com o skate no pé, o Skatista de Vidro avança, aprendendo a dominar o seu meio de locomoção e como as manobras podem ser usadas como arma para destruir seus inimigos.

A cada camada e lua devorada, novos amigos e oponentes aparecem. Os planos do Diabo vão ficando cada vez mais claros e o Skatista descobre que sua motivação inicial já não existe mais, pois dormir não parece o bastante para um ser que tem tantas questões a serem trabalhadas.

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Queimando o asfalto e raspando o shape

Jogos como SkateTony Hawk’s Pro SkaterOlliOlli World, embora possibilitem execução de combos surreais alcançando alturas sobrehumanas, ainda se baseiam fortemente nas manobras reais. Skate Story não é diferente - ainda que acompanhado de uma temática infernal.

O jogo de Sam Eng respeita o que já foi estabelecido por tantos outros jogos de skate anteriores, sem a pretensão de reinventar a roda, manobras conhecidas como o ollie, flip, reverse e grind compõem o portfólio do Skatista de Vidro. Todos os comandos são bem fáceis, combinando de dois a três botões para a execução das manobras durante as fases.

Cada uma das camadas do inferno é um nível diferente e fechado. Nele o jogador encontrará NPCs com pequenas missões que podem dar andamento a campanha ou lhe render itens para customizar seu skate. 

Nada no jogo é muito complexo, retirando a necessidade de um HUD extenso em sua tela, que conta apenas com uma ocasional e pequena barra de vida (que só aparece quando o jogador leva dano) e uma barra de velocidade. Mas nenhuma das duas tem um impacto relevante no jogo.

Além das manobras ajudarem o jogador a transpor o cenário e cumprir os desafios, elas também podem ser usadas para infligir dano aos inimigos. Essa mecânica tem seu auge nas batalhas contras os chefes.

Ao longo de cada uma das fases o jogador aprende uma nova manobra, variações e combos que o ajudam no jogo. E ao final de cada uma dessas fases, a tradicional batalha contra o chefe acontece, onde o jogador deve derrotá-lo executando combos perfeitos e então devorar a Lua que ilumina aquela camada do inferno.

O flow do jogo é muito bom, mas algumas limitações podem causar uma certa frustração justamente por interrompê-lo abruptamente. Isso acontece pois o level design pode ser um tanto confuso as vezes, pois seu conceito artístico pode esconder certos detalhes importantes que atrapalham o deslocamento do jogador no cenário. E isso gera frustração, principalmente quando o jogador estiver em alta velocidade e com um combo alto, que acaba sendo interrompido por uma quina ou lombada que aparentava ser uma pista lisa. Muito disso é ocasionado pela iluminação e aplicação exacerbada de cores, que são decisões artísticas muito legais, mas que podem atrapalhar. A dica é mexer nas opções gráficas para poder regular iluminação, vazamento de cores e oclusão de ambiente.

Outro pequeno detalhe que talvez possa incomodar algumas pessoas é a falta de indicações mais claras sobre o que fazer em alguns momentos. No decorrer do jogo é possível se habituar e compreender como proceder em cada fase, mas vale o ponto de atenção para os mais desatentos.

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“Só os loucos sabem”

Skate Story é um jogo singular devido a intenção da obra. Para além de um gameplay satisfatório movido a remadas em seu skate, o jogo propõe uma reflexão sobre motivações de vida guiadas pela arte. Com leveza o jogo apresenta essa proposta de forma despretensiosa, mas cheia de intenção, podendo levar o jogador a pensamentos existenciais.

A execução é exemplar, e demonstra como Sam Eng se dedicou para entregar aos jogadores uma parte dele mesmo.

Através de postagens no Substack é possível acompanhar a saga do criador de Skate Story, onde ele divide com os leitores suas questões com o ato de criar arte e um elemento em particular que estaria tão presente no jogo: a poesia.

Ao longo do jogo, seja nos diálogos das personagens ou na finalização de cada capítulo, é pungente a paixão de Eng por poesia. As falas dos NPCs são swingadas em ritmo de poema, o que traz uma profundidade inesperada para um jogo centrado em skate.

Essa poesia aliada às manobras, tem como pano de fundo cenários oníricos, com representações holísticas das camadas do inferno, onde toda a escuridão e vazio desses locais estranhamente geram uma sinergia com o corpo espelhado, feito de vidro, do protagonista.

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E a liga que junta tudo isso é a música. Como um bom jogo de skate, a trilha sonora não poderia ficar de lado, tendo um papel primordial ao criar o clima perfeito para a jornada do Skatista de Vidro.

Alguns dos temas são tocados por John Fio, que embora competente e bem executado, acaba ofuscado pelas canções da banda Blood Cultures, responsável pelas músicas dos chefes. O som me conquistou, fazendo com que o jogo ganhasse ainda mais brilho, combinando de maneira magistral com a jornada do skatista. Vale ressaltar que eles irão lançar um álbum chamado Skate Story, Vol. 1 juntamente ao jogo.

Vale a pena?

Algumas experiências devem ser vivenciadas para que a plenitude de sua mensagem alcance - ou ao menos tente - o seu imaginário e com isso te toque de alguma maneira. Skate Story é assim. Mas como o objetivo aqui foi lhe dar uma ideia do que esperar, posso dizer com a leveza que esse é um jogo que vale a pena ser jogado.

Posso não saber o propósito de Sam Eng ao colocar essa obra no mundo, mas arrisco dizer que ali existe uma história bem pessoal, com reflexões profundas sobre sua jornada e como ela pode impactar outras pessoas através de manobras sobre quatro rodas e um shape.

De lua em lua, mergulhando cada vez mais no inferno e lutando contra uma insônia sem fim, nosso skatista de vidro esconde seu interior ao refletir tudo o que é externo a cada ollie emendado num grind, como se sua remadas com o skate através dos portais, rumo ao seu objetivo, fosse uma maneira para quem cruza seu caminho se visse refletido e pudesse se motivar - ou ao menos se movimentar mais.

Como toda obra pessoal, Skate Story possui acertos e falhas, pois reflete seu criador. Mas acredito que ao contar essa fábula sobre um skatista demoníaco envolto em poemas, Sam Eng criou algo único e irreplicável, que une esporte e arte de tantas maneiras, que só aqueles dispostos a surfar esse asfalto poderiam entender. Então, ao menos tente.

Nota do Voxel: 88

Pontos Positivos (prós):

  • Jogabilidade simples e acessível
  • Trilha sonora excepcional 
  • Conceito artístico atrativo
  • Narrativa inesperada

Pontos Negativos (contras):

  • Level design por vezes confuso
  • Possivelmente requer ajustes visuais para alguns jogadores 
  • Baixa dificuldade e sem muitas opções para alterar isso

Skate Story está disponível para PC via SteamPlaystation 5Nintendo Switch 2. Uma cópia para PC de Skate Story foi cedida pela Devolver Digital para a realização deste texto.

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