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Coluna: fale menos e jogue mais

08/05/2014, às 12:32

“Não joguei ainda, mas pelo que vi até agora merecia entre 8 e 8,3”. Não é preciso se aprofundar muito na internet (praticamente qualquer notícia do BJ serve a esse propósito) para perceber que pessoas adoram conversar sobre games, mesmo aqueles que nunca jogaram antes. Graças a vídeos do YouTube, blogs, artigos no Wikipédia e sites especializados, temos acesso a uma quantidade imensa de informações que servem como base para a realização de debates e discussões infinitas.

No entanto, parece-me que, em meio a tudo isso, não resta mais muito espaço para o jogo em si. Não me entendam mal: até mesmo por trabalhar com a área, nos últimos anos passo mais tempo lendo sobre games do que efetivamente os jogando (o que resultou em um backlog que exigiria praticamente um ano de jogatina ininterrupta para ser finalizado), então entendo bem o que pode levar a essa situação.

"Nunca joguei, mas pelos vídeos merecia um 8. O BJ manja nada"

O problema que noto nesse sentido é que a internet parece estar criando uma geração de “manjadores terceirizados”, que passam mais tempo discutindo as opiniões alheias do que expondo o resultado de suas experiências próprias. A impressão que fica em muitos casos é a de que estamos conversando com uma “enciclopédia humana”, que sabe tudo de um assunto, mas somente de forma superficial — quase como o acadêmico que é Mestre em engenharia, mas não saberia reformar um cômodo nem se a sua vida dependesse disso.

Blablabla, mimimi e suas variantes

Talvez o maior problema de falarmos excessivamente sobre jogos eletrônicos (desperdiçando um tempo de jogo precioso) é o fato de que, inevitavelmente, todas as discussões parecem cair em algum lugar-comum. Se na geração anterior as exclusividades e números de venda dominavam as “discussões”, atualmente é difícil não ver verdadeiras batalhas verbais sendo travadas com base em tecnicalidades — com espaço para um sempre singelo “a Nintendo vai falir” no meio de tudo isso.

Devo ser bem sincero: estou mais do que cansado em ler comentários do tipo “ai, mas tal game roda a 1080p e 60 fps no meu console, chupa ”. Não somente por ser um jogador de PC, no qual tais aspectos não parecem ter mais tanta importância, mas também por saber que, na prática, a maioria das pessoas que se apegam a isso sequer nota a diferença na hora de jogar.

Isso somente para mencionar um dos aspectos mais recentes da eterna “Guerra dos Fanboys®”, especialista em usar aspectos irrelevantes como forma de fomentar rivalidades. Parece-me que, ao se focar em discutir se a “Frostbite” é melhor do que a “Unreal Engine 4” ou se vale a pena investir nesse ou naquele exclusivo, deixamos de prestar atenção ao que realmente interessa: a diversão.

"Meu console tem mais resolução que o seu, lalalala"

Em meio a todo o bate-boca online, é raro ver alguém discutindo mecânicas ou usando impressões subjetivas para justificar o porquê de ter gostado de algo. A impressão que fica é a de que, se não usarmos como base critérios “objetivos” como a taxa de quadros por segundo ou a qualidade gráfica de alguma produção (“mas olha lá, tem serrilhado, jogo lixo”), nossa opinião será considerada inválida, já que não estamos sendo “imparciais” em nossa opinião (uma clara contradição em termos).

Uma mudança de foco é necessária

Talvez eu esteja sendo tolo em esperar que critérios técnicos e comparações superficiais deixem de ser usados como “munição” para discussões online, mas penso que um dia vamos perceber que há muito mais a se falar em relação a jogos eletrônicos. Tal qual acontece com a literatura ou cinema, sonho com um momento no qual vamos passar a ignorar critérios técnicos e nos focar na essência de um game ao tentar discuti-lo.

Em vez de falar sobre como os gráficos de Child of Light são “infantis”, por exemplo, seria muito mais interessante ver discussões sobre as técnicas literárias empregadas em sua narrativa. Ou melhor: voltar aos bons tempos em que, em vez de tentar destrinchar as entranhas de um jogo, simplesmente nos preocupávamos em falar com nossos amigos sobre aquela sala secreta que você encontrou e ninguém mais parece ter visto.

O dever chama: há alguém errado na internet

Um bom exemplo de como a discussão sobre jogos eletrônicos pode ser enriquecida e, por que não, ganhar ares mais “leves” pode ser o de séries como Game of Thrones. A cada semana, quem acompanha a produção está mais interessado em discutir os acontecimentos do último episódio e suas consequências do que se apegar a picuinhas como o ângulo de câmera de determinada cena ou as roupas utilizadas por um figurante.

Talvez seja inocência de minha parte achar que podemos iniciar discussões sobre games baseados em quesitos semelhantes devido à grande dependência que esse universo tem em relação a avanços técnicos. Mesmo assim, acredito que chegamos a um ponto no qual já não há mais tanto sentido focar discussões na quantidade de polígonos de um personagem ou do número de partículas que essa ou aquela plataforma consegue mostrar.

E é justamente dessa crença que nasce o título desta coluna: em vez de discutirmos tanto critérios técnicos, não seria melhor usar toda a energia e tempo dedicados a isso a simplesmente jogar? Não é muito mais prazeroso explorar Azeroth, as ilhas caribenhas, Eorzea ou outro cenário de sua preferência em vez de perder horas xingando outra pessoa usando como único critério opiniões alheias, vídeos do YouTube ou listas com especificações técnicas?

Não defendo o fim das discussões online, até porque é possível tirar muitas informações importantes e interpretações inusitadas delas. No entanto, diante de um cenário no qual os argumentos vazios reinam, talvez seja melhor aprender a fazer um pouco de “silêncio” e apreciar a forma de entretenimento que tanto nos dá prazer, sem transformá-la em uma mera ferramenta destinada a “brigar com o coleguinha”.


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