O número “13” por si só tem uma natureza sombria, por assim dizer. Na verdade, ele é uma faca de dois gumes: historicamente, pode representar azar ou trazer sorte. Os algarismos 1 e 3 juntos incitam os mais diversos casos de controvérsia. São números utilizados na loteria e evitados numa sexta-feira de Jason Voorhees – aquele genocida dos filmes Sexta-Feira 13.
Não sei se é possível determinar um parâmetro para o número quando o assunto diz respeito aos games. Para bem ou para mal, “13” representa uma aposta, e o que podemos dizer, agora sim com absoluta certeza, é que 2013 foi um ano que entrou para a história dos games.
O período foi um conglomerado de muitas coisas boas ao mesmo tempo – e podem colocar um asterisco no Brasil, que definitivamente entrou no circuito mundial de games em simultaneidade com o Primeiro Mundo. É quando a rara combinação quantidade + qualidade dá certo: 2013 foi isso.
E não basta falar apenas de games. Tivemos a nova geração de consoles, os bombásticos eventos – quem aí não se lembra da Sony vestindo a carapuça de Robin Hood na E3 ao anunciar que o PS4 estaria livre de quaisquer políticas restritivas? –, a BGS, que adquiriu proporções colossais e é de longe a maior feira de games de toda a América Latina, os títulos inesquecíveis, a consagração de algumas plataformas – 3DS que o diga – e muito mais.
O Brasil sempre foi uma potência de games. Isso é fato. Existem alguns entraves no país que atrasam todo o processo – impostos, pirataria, governo, burocracia –, mas a luta é interminável, e os games, pouco a pouco, vão definitivamente se inserindo no circuito nacional. Brasileiro tem criatividade e isso é reconhecido lá fora. Não à toa, somos hoje a quarta maior potência em games – ficando atrás apenas de EUA, Japão e França.
Fazer um panorama desse histórico 2013 não é fácil, mas vamos relembrar os principais fatos gamísticos que acometeram nossas vidas numa retrospectiva do ano?
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Jogos – por onde começar?
Que atire a primeira pedra aquele que conseguiu jogar tudo o que havia planejado neste abarrotado 2013. Eu mesmo estou com uma lista imensa que pretendo desafogar nas próximas semanas, mas é difícil. Eis uma prova de que a atual geração pode e deve ser valorizada: a biblioteca de títulos e louvável.
Ken Levine nos presenteou com BioShock Infinite, obra-prima que ficou párea com o primeiro jogo e trouxe a seguinte ousadia: a ausência de um modo multiplayer. É como se Levine enviasse uma mensagem implícita ao modismo multiplayer: “meu jogo não tem modo online e é igualmente bom”. Ah, Levine, se pudéssemos ler sua mente...
Aí apareceu o maravilhoso Tomb Raider numa reimaginação da franquia que mostrou uma frágil Lara Croft em seus primeiros dias de trabalho. E a jovem exploradora mostrou que os ossos do ofício custam caro, pois não é brincadeira o quanto a garota apanha. Alguém imaginava ver essa mimada e durona Lara Croft, filha de britânicos, tão “humilde” assim? Tomb Raider foi um jogaço.
Cercado de muito hype, The Last of Us foi lançado em escala mundial – inclusive no Brasil por R$ 149 – e alcançou notas máximas em diversas análises (na do BJ também). Sucesso de público e crítica, a aventura da Naughty Dog só embolou a nossa lista. Jogo do ano? Para muitos, sim. Se bem que é possível classificar vários games como jogos do ano neste populoso 2013...
Bem, quem é que não poderia faltar? Trevor, quer dizer, GTA 5, que serviu para colocar a cereja num bolo que já transbordava em recheio. A Rockstar novamente mostrou que sabe lidar com “gerações” e pontuou o ano com uma das experiências mais gratificantes dos últimos tempos – com um pomposo multiplayer em mundo aberto com o qual todos sempre sonhamos.
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Novamente: é tarefa ferrenha conseguir enumerar tudo de bom que saiu em 2013 além dos jogos supracitados. Mas vamos tentar:
- Beyond: Two Souls;
- Rayman Legends;
- Assassin’s Creed 4: Black Flag;
- Battlefield 4;
- Call of Duty: Ghosts;
- Gran Turismo 6;
- Forza Motorsport 5;
- Super Mario 3D World;
- The Legend of Zelda: Wind Waker HD;
- God of War: Ascension;
- The Legend of Zelda: A Link Between Worlds;
- Ni No Kuni: Wrath of the White Witch.
E muito mais. Correndo por fora do mainstream, temos ótimos títulos como Pikmin 3, Luigi’s Mansion: Dark Moon, Puppeteer, Pokémon X/Y, os excelentes indies The Stanley Parable, Gone Home, Guacamelee, Hotline Miami e muito, muito mais.
Diversos jogos, aliás, serviram para consolidar plataformas. Será que a Nintendo começa a esboçar reações mais agressivas com o Wii U, mesmo ausente da E3? E o 3DS, que recebeu uma batelada de títulos que só reforçam o motivo de aquisição do portátil?
Por falar em E3, a edição deste ano foi uma novela das boas!
DRMs e o momento E3 2013: Sony vestindo a carapuça de Robin Hood
Talvez motivo de maior birra entre os ditos fanboys, as políticas restritivas de outrora geraram intermináveis discussões – inclusive nos comentários aqui do BJ, caros leitores.
A Microsoft ficou “em cima do muro” até onde o limite permitiu. A companhia não gostava de assumir que iria adotar o uso de DRMs e tampouco dizia que não faria isso – ela simplesmente desconversava.
Em suas conferências que rolaram antes da E3, Sony e Microsoft digladiaram a supremacia com foco em exclusividades, hardware, funções multimídia e serviço online. Talvez as duas não contassem que os jogadores fizessem tanta questão dos empréstimos “tradicionais”, isto é, simplesmente entregar sua mídia a um amigo e depois tê-la de volta. Na verdade, tomar esse direito do consumidor é que incomodou, mesmo que ninguém pensasse em emprestar jogos.
Dito isso, a Sony fez a lição de casa: ouviu os apelos e rezas brabas que foram trending topics no Twitter e no Facebook da empresa para que ela não implementasse quaisquer políticas restritivas no PS4.
As preces foram atendidas da forma mais “novelizada” possível. Se a Microsoft havia decepcionado o público com o Xbox One “televisivo” no começo do ano, ela até se redimiu com uma bela apresentação na E3, mas quem vestiu a carapuça de Robin Hood e conquistou a “plebe” foi a Sony: ela subiu no palco e disse tudo aquilo que os jogadores queriam ouvir. Exatamente como fazem os políticos populistas ou demagogos em países emergentes (a exemplo do Brasil).
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“Nós não teremos DRM. Não teremos bloqueio com jogos usados. Não colocaremos restrições a empréstimos. E o preço do PS4 será de... US$ 399”.
Pronto. US$ 100 a menos que o console da principal concorrente e sem qualquer bloqueio ou impedimento. A Microsoft passou a ser chacota da galera e virou motivo de piada em todas as redes sociais durante os meses seguintes.
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A redenção da Microsoft com o Xbox One
A Microsoft não aguentaria a pressão nos meses seguintes. Ela praticamente viveu o inferno na terra ao se transformar em alvo de fãs de qualquer marca – até mesmo nintendistas tiraram uma casquinha.
Pressionada, a companhia publicou um ultimato na página oficial do Xbox e disse que “escutou o feedback de todos nós”. A empresa foi obrigada a ferir o orgulho e removeu toda e qualquer política restritiva do Xbox One. Basicamente, a atualização com a qual você se depara ao ligar o console pela primeira vez serve justamente para remover as políticas restritivas do console.
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Com um pacote de US$ 499, o video game acompanha o reformulado Kinect e a promessa de entregar uma experiência multimídia sem precedentes. Com isso, o Xbox One ficou páreo com o PS4 e aí, sim, a comunidade gamer pôde ter discussões saudáveis sobre a nova geração sem aquela pulguinha atrás da orelha. É como se a guerra entre PS4 e Xbox One se tornasse “justa”.
Enfim, a nova geração!
Você pode ler as análises superespeciais que preparamos para PS4 e Xbox One. Clique aqui para conferir nosso dossiê sobre o console da Sony e aqui para ver como desvendamos o video game da Microsoft.
Enquanto isso, o Wii U completou um ano de vida e começa a esboçar reação com um acervo de títulos exclusivos interessantes. O console foi inclusive lançado no Brasil em novembro custando R$ 1,899 (o BJ havia cantado a bola desse valor antes do anúncio, e o rumor foi acertado), mais barato que Xbox One e PS4, que também chegaram por aqui em caráter oficial. Xbox One custa R$ 2,299 e o PlayStation 4 sai por abusivos R$ 4 mil.
O preço de qualquer um é uma bica? Sim. São os consoles mais caros do mundo? Sim. Mas estão todos aí. O Brasil é que está aí, na verdade.
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Brasil no circuito: preços altos, mas presença massiva no mercado
O Brasil está no centro dos holofotes não apenas pelo fato de ter lançado os três novos consoles a preços bem salgados, mas por estar absorvendo a cultura do video game de forma mais consistente.
Prova disso são os eventos e exposições que rolaram ao longo do ano por aqui:
- Tivemos o Zelda Day, idealizado e organizado pelos próprios fãs da franquia da Nintendo em diversas partes do país;
- A mostra PLAY!, em que o icônico prédio da Fiesp, na Avenida Paulista, em São Paulo, se transformou num telão que o público poderia utilizar para jogar clássicos baseados em Pac-Man, Pong e outros;
- O Games for Change, movimento e organização não governamental internacional dedicada à utilização de jogos eletrônicos para o desenvolvimento social que este ano rolou na USP, em São Paulo, em sua terceira edição;
- O Video Games Live, ou VGL, que mais uma vez trouxe sua orquestra sinfônica para tocar temas de grandes games ao vivo num concerto inesquecível em São Paulo;
- O Brazilian Game Developers, programa com participação do governo que tem como intuito promover jogos do país internacionalmente.
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E muito mais. Citamos apenas alguns que mostram o volume da cultura gamer no país. Quem deu o tom no som da caixa foi, é claro, a Brasil Game Show 2013!
BGS 2013: dobro de tamanho, público e conteúdo
A maior feira de games da América Latina teve o dobro de tamanho em comparação com a de 2012 e ocupou dois pavilhões da enorme Expo Center Norte, em São Paulo, consagrando-se como o maior evento de entretenimento eletrônico do continente.
Os brasileiros puderam sentir um gostinho do PS4 e do Xbox One, que estavam à disposição com vários títulos para o público experimentar. A Nintendo infelizmente ficou de fora da feira, mas teve sua chance de redenção com o Brasil Nintendo Showcase, evento exclusivamente voltado para mostrar os produtos da “Big N” no país – o que incluiu o lançamento do Wii U e a continuidade do trabalho já existente com o 3DS por aqui.
A BGS 2013, como vocês puderam conferir na cobertura minuciosa que o BJ fez, deu um panorama otimista do que podemos esperar no futuro: mais investimentos do governo; incentivo aos desenvolvedores brasileiros; fabricação nacional. Cravamos isso porque, além dos blockbusters, brilhantes trabalhos independentes de talentos brasileiros foram apresentados na feira. Mostramos um pouquinho disso em nossa matéria especial sobre o “lado B” da BGS:
Em 2014, o que já era quente vai ferver. Todos os quatro pavilhões do Expo Center Norte servirão de palco para novidades do mercado nacional e internacional, teste de lançamentos e mais.
De acordo com Marcelo Tavares, criador da feira, a quantidade de títulos será imensa, e a BGS 2014 será oportuna para que todos consigam testar tudo sem enfrentar filas tão homéricas. O aumento no número de pavilhões é justamente para conseguir comportar o maior número possível de pessoas e permitir que todos testem tudo.
E nem só de jogos em si vive o mercado nacional. A Editora Galera Record, que publica várias obras baseadas em games, mostrou parte do acervo que o país está recebendo no cenário da literatura – e a bacia, para nosso deleite, está transbordando em conteúdo.
Livros, quadrinhos, fascículos e mais
Obras baseadas em games, que antes se restringiam a um nicho que precisa dominar o inglês, se tornaram comuns nas livrarias brasileiras.
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Várias franquias de sucesso tiveram romances homônimos traduzidos para o nosso idioma, e a biblioteca só aumentou em 2013: Uncharted, Diablo, Battlefield, God of War, BioShock, Assassins’s Creed, Resident Evil, entre outras obras.
Halo, que já contava com grandes adaptações nos quadrinhos, teve belos arcos traduzidos para o português do Brasil: Helljumper, Insurreição e mais. HQs de Gears of War, God of War e Mass Effect também foram trazidas ao nosso idioma.
Fonte: Reprodução/Coletivo CultSem falar nos fascículos isolados que aparecem em edições especiais, conteúdo por download e outras opções multimídia. A localização desse conteúdo adicional para o português brasileiro é simplesmente uma obrigatoriedade a partir de agora – pois finalmente perceberam que existe retorno do público tupiniquim.
Aliás, voltando um pouquinho aos games “digitais”, outro segmento que explodiu em 2013 foi o cenário indie. Parece que as marcas finalmente abriram a porteira: os blockbusters ganharam concorrentes “à altura”.
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Criatividade e ousadia: mercado indie em alta
Os desenvolvedores independentes foram costurando seu espaço no mercado durante anos, mas 2013 marcou um período de importante ascensão para a carreira desses profissionais.
Os títulos que eles apresentam geralmente escapam de clichês e mecânicas previsíveis. Pelo fato de talvez não terem nada a perder, os indies usam e abusam de tudo o que podem em termos de criatividade – e isso traz ousadia, um tempero um tanto escasso nessa indústria de tiros, explosões e tripas esvoaçantes.
O “brainstorming”, técnica muito utilizada no universo publicitário em que várias ideias são mescladas num conjunto, digamos, maluco ou bagunçado, é adotado sem restrições nos indies em fórmulas geniais.
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Títulos como The Stanley Parable, Guacamelee!, Outlast, Hotline Miami, Papers, Please e outros mostram que gráficos são uma camada superficial perto de uma ideia muito maior. E o ano de 2013 nos presenteou com belíssimas obras indies, além das supracitadas:
- Gone Home;
- The Swapper;
- State of Decay;
- Rogue Legacy;
- Antichamber;
- Path of Exile;
- Runner 2: Future Legend of Rhythm Alien;
- rain;
- Proteus;
- Kentucky Route Zero;
- Resogun;
- Contrast.
Certamente faltam títulos nessa seleção, pois indies sobraram em 2013.
E com a abertura do mercado, o acervo deve ser ainda mais numeroso em 2014. A arquitetura do PS4 foi feita justamente pensando na autopublicação de títulos; a Microsoft anunciou parceria com mais de 50 estúdios que produzirão jogos independentes para o Xbox One; a Nintendo também está elaborando um programa reforçado aos indies no Wii U e no 3DS para as próximas temporadas.
2014 – Dá para ser melhor? Sim!
Se 2013 foi inesquecível por tudo isso que você conferiu acima, 2014 tem tudo para ser igualmente marcante – ou até melhor.
Isso porque o ano que vem será o período em que a nova geração vai mostrar um significado. São os títulos que vendem um console, e não o hardware. Claro que esse quesito é primordial, mas estamos falando de acervo: PS4, Xbox One e Wii U têm tudo para competir em pé de igualdade, cada qual com as suas particularidades.
Como se a disputa já não fosse acirrada o suficiente, o SteamOS e as Steam Machines pegam o bonde andando para bagunçar tudo de vez e trazer uma nova perspectiva ao PC como plataforma de jogos.
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Mas essa novela vamos deixar para 2014.
Até lá, ainda dá para curtir muito do que rolou neste magnífico 2013!
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