DriveClub foi apresentado, logo de cara, como uma proposta ambiciosa. Além de ser uma porta de entrada para os jogos de corrida da nova geração no PlayStation 4, o game ainda prometia uma série de funcionalidades online que o colocavam em sintonia com o atual momento da indústria — todo ele voltado ao compartilhamento e ao desenvolvimento de comunidades.
Conectividade, clubes, desafios variados, dezenas de carros construídos com riqueza de detalhes. O que a Evolution Studios pretendia parecia ser o melhor de dois mundos. Entretanto, quando a coisa é colocada para funcionar, é fácil perceber que o buraco é um pouco mais embaixo.
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Não entenda mal. Ainda há aqui um belíssimo jogo de corrida. Há belos carros cheios de detalhes, tanto no interior quanto no exterior. As pistas também são de tirar o fôlego. Entretanto, algumas derrapadas acabaram afastando o ideal pintado pela desenvolvedora. E a principal delas talvez seja o ambiente online — com seus servidores constantemente inacessíveis para grande parte dos jogadores. Vamos aos detalhes.
Clubes e ambiente online
Desde o início, DriveClub foi associado com a ideia de que corridas podem ser ainda mais empolgantes em um ambiente social. No centro desse conceito, estão os clubes. Ao se associar com até cinco bons amigos, você tem a possibilidade de competir contra outros pilotos online, seguindo o bom e velho espírito de bando. Além disso, algumas belas máquinas do game apenas são liberadas caso o seu clube consiga um bom desempenho.
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O grande problema? Até o momento em que esta análise foi concluída, a maior parte das funcionalidades relacionadas aos clubes se limitava a apenas uma eterna tentativa de se comunicar com os servidores — representada por uma onipresente roda de “loading”. Mesmo as funcionalidades associadas à pontuação e à personalização dos clubes parecem itinerantes, aparecendo e desaparecendo sem prévio aviso.
Atualizações e mais atualizações...
Basicamente, o que se viu após três semanas do lançamento é que a Evolution tentou mesmo dar um passo maior do que as pernas. A tentativa de expandir o que havia sido visto em edições anteriores de jogos como Forza Motorsport e Need for Speed não foi, aparentemente, acompanhado por um planejamento infraestrutural adequado — o que acaba por gerar muita frustração.
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Embora DriveClub ainda seja um bom jogo de corrida em ambiente offline, seria difícil considerá-lo, nessas condições, como o próximo passo dos títulos de corrida em consoles. Talvez a solução agora seja esperar... Para ver se a Evolution ainda consegue se aprumar e colocar as coisas em ordem.
Entre o arcade e a simulação
Assim como o recém-lançado Forza Horizon 2, DriveClub também posiciona a sua jogabilidade em algum ponto intermediário do espectro entre a simulação e o arcade. Entretanto, diferentemente do seu concorrente (indireto), o game da Evolution acaba caindo um pouco mais para o lado da simulação.
Dessa forma, frear e fazer curvas aqui não é tão difícil quando em um Gran Turismo, mas também não chega a ter a facilidade surreal de um NfS. Além disso, os controles ainda são suficientemente distintos para que se possa diferenciar claramente um Bentley de um Mini, ou este de um Mercedes-Benz.
Não basta chegar em primeiro lugar
Uma boa sacada de DriveClub é a de valorizar algo além da bandeira quadriculada. Embora em uma corrida real isso possa ser suficiente, convenhamos que, nos games, o distanciamento de um carro de verdade acaba produzindo todo tipo de coisa pouco competitiva entre uma ponta e outra de um percurso.
Dessa forma, dirigir bem concede pontos aqui, assim como executar diversos desafios específicos de cada campeonato particular — seja a realização de drifts, uma velocidade a ser mantida por setor ou, é claro, o próprio lugar no pódio. De qualquer forma, é perfeitamente comum que um segundo ou terceiro lugar aqui acabe como “vitorioso” na soma final de pontos.
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A Inteligência artificial pode frustrar
DriveClub adotou a sua própria saída para evitar que você faça todas as curvas pela brita/gramado ou que fique engavetando todos os demais competidores despreocupadamente. Basicamente, se você abusar dessas coisas, o jogo vai perceber. Inicialmente, a punição vem por meio de decréscimos de pontos, mas a coisa pode chegar a alguns segundos de desaceleração compulsória. E isso pode ser um problema.
Embora a ideia seja razoável, há um pequeno “porém”: os seus companheiros de I. A. (inteligência artificial) não estão sujeitos aos mesmos castigos. Bem, caso todos dirigissem exemplarmente, como pilotos reais, talvez a coisa ficasse por isso mesmo.
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Ocorre, entretanto, que é bastante comum que um deles simplesmente ignore a sua existência — o que já é bem frustrante —, “enchendo” a traseira do seu carro. Como resultado... Você mesmo é penalizado por “ocasionar” um acidente.
Esplendor de detalhes
Se os carros de DriveClub já impressionam por fora, então experimente dar uma olhadela dentro das cabines. O cuidado da Evolution com os detalhes aqui realmente impressiona. E isso tanto pela fidelidade na recriação dos interiores dos mais de 50 ícones automobilísticos (disponíveis no pacote inicial) quanto na forma como as luzes e os reflexos se projetam em todo o canto.
A experiência de correr contra o sol poente, por exemplo, é algo que não se esquece facilmente. Ou melhor, talvez isso seja ofuscado apenas pelas corridas noturnas. Mergulhar no mais completo breu, utilizando a câmera de dentro do cockpit e voando a centenas de quilômetros por hora... Isso é algo que certamente não se esquece.
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Embora alguns efeitos ainda devam ser adicionados — tais como chuva e neve —, é difícil olhar para o horizonte e não se surpreender com o realismo das nuvens, da iluminação e da vegetação.
Eurocentrismo sobre rodas
Talvez a única questão curiosa em relação aos carros de DriveClub seja a completa ausência de veículos japoneses e americanos entre os modelos que acompanham o jogo. Talvez a única exceção aqui seja o Hennessey Venom GT — embora isso seja até um tanto controverso, considerando-se o processo de fabricação multinacional do modelo.
É verdade que a Evolution pode ter ganhado alguns pontos ao incluir carros atípicos mesmo entre as franquias de simulação. Entretanto, considerando-se o “clubismo” que sempre acompanha os fãs das quatro rodas, é impossível não torcer o nariz para essas ausências.
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“Cercas embandeiradas”
Talvez seja difícil para alguns jogadores sair por conta, sem o auxílio das tradicionais linhas de frenagem etc. Entretanto, convenhamos, uma linha multicolorida ocupando o asfalto, embora funcione bem, sempre foi um recurso um tanto... Irreal.
E aí vale pontos para DriveClub, de fato. Em uma escolha muito mais sutil, a Evolution Studios optou por colocar bandeiras de sinalização nas porções externas das curvas. Dependendo da cor (verde, amarelo ou vermelho), você fica sabendo com bastante precisão o quão acentuada é a próxima curva.
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Personalizações
Não, aqui você não encontrará o nível de personalização de um game como Forza Horizon 2 — com ajustes que quase chegam às porcas e parafusos dos motores e demais partes. Mas, sim, há alguma customização.
É possível pintar os seus carros com as cores do seu clube, por exemplo, adicionando matizes, listras e emblemas variados. O próprio piloto (o seu avatar) também pode contar com alguma identidade — embora isso não vá além de alguns rostos, roupas e cabelos pré-definidos.
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Ambição além do alcance?
No estado atual, é realmente difícil avaliar DriveClub em sua totalidade. Afinal, conforme dito anteriormente, há neste momento uma eterna roda de carregamento separando a porção offline do game de toda a dimensão online e social planejada (e propagandeada) por muito tempo pela Evolution Studios.
De fato, a ideia de formar clubes, de ganhar reconhecimento e de convidar/desafiar amigos para uma partida online — cada um ostentando as cores do próprio “grêmio” — certamente fica muito bem no papel... Mas realmente ainda não chegou a ganhar a materialidade que era esperada. E, bem, sem isso, DriveClub é apenas um belo jogo de corrida entre o arcade e a simulação.
É claro que os gráficos são um belo espetáculo aqui. Tanto cenários quanto veículos e efeitos atmosféricos (menos aqueles ainda ausentes) são orquestrados à maestria, resultando em um verdadeiro esplendor gráfico. Mas isso, hoje, talvez não seja mais suficiente. Principalmente quando algo muito maior foi prometido. Resta saber agora se a Evolution Studios conseguirá mesmo voltar ao prumo.
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