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Quantas pessoas poderiam viver melhor com a grana de bilionários que querem viver pra sempre?

Ricaços como Elon Musk e Jeff Bezos estão investindo em soluções para criar a 'imortalidade'. Mas esse dinheiro poderia beneficiar quantas pessoas pobres no mundo?

Avatar do(a) autor(a): Carlos Palmeira

14/06/2023, às 04:00

Quantas pessoas poderiam viver melhor com a grana de bilionários que querem viver pra sempre?

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Imagem de Quantas pessoas poderiam viver até os 70 anos com a grana de pesquisas para criar a ‘imortalidade’? no tecmundo

Com o avanço do século XXI, a humanidade tem visto cada vez mais tecnologias que parecem ter sido vindas de um filme de ficção científica. E uma das soluções que tem recebido investimento servirá para justamente tentar “driblar” o tema mais complexo da existência:  a morte.

Empresários, cientistas e bilionários estão se unindo para tentar criar soluções para interromper a provável única certeza que temos já quando nascemos. E as ideias são várias, indo de criogenia até transferência de consciência para o computador.

O ricaço e ex-CEO da Amazon, Jeff Bezos, é uma das personalidades que parece se empolgar com a ideia de viver para sempre. Em 2021, foi divulgada a informação de que o magnata havia virado um dos investidores da Altos Labs.

Jeff BezosO bilionário Jeff Bezos também é um entusiasta da exploração espacial (Fonte: Alex Wong/Getty Images)

A empresa pesquisa tecnologias de reprogramação biológica, ou seja, métodos para reverter o envelhecimento natural das células do corpo humano. Bezos investiu US$ 3 bilhões na companhia.

Convertendo em reais, o valor equivale a quase R$ 15 bilhões na cotação de 12 de junho. Para se ter uma ideia, a grana é praticamente o PIB inteiro do estado brasileiro do Acre, que em 2022 foi avaliado em R$ 16,4 bilhões, segundo o IBGE.

Download da consciência

O bilionário Elon Musk disse em entrevista à Insider que não acha que “devemos tentar fazer com que as pessoas vivam por muito tempo”. “Isso causaria asfixia da sociedade porque a verdade é que a maioria das pessoas não muda de ideia. Elas simplesmente morrem. Então, se elas não morrerem, ficaremos presos a velhas ideias e a sociedade não avançará”, acrescentou.

Apesar disso, o fato é que ele investe na ideia e acha que isso é possível de certa forma. Fundada em 2016 e apresentada em 2017, a Neuralink sonha grande e gera notícias com certa frequência a cada avanço em seus projetos.

Tendo como seu fundador mais proeminente o dono do Twitter, a empresa foi autorizada recentemente a testar chips em cérebros humanos. A longo prazo, a companhia poderá permitir que as pessoas façam o download do próprio cérebro para um robô, fazendo com que suas consciências se mantenham vivas mesmo em caso de morte física.

— Neuralink (@neuralink) May 25, 2023

“Poderíamos baixar as coisas que acreditamos que nos tornam únicos. Agora, é claro, se você não estiver mais naquele corpo, isso definitivamente fará uma diferença, mas no que diz respeito a preservar nossas memórias, nossa personalidade, acho que poderíamos fazer isso”, argumentou Musk.

De acordo com informações da Reuters, a Neuralink é avaliada atualmente em cerca de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 24,3 bilhões).

Outro uso para a grana das pesquisas de imortalidade

São várias outras iniciativas que tentam prolongar a vida humana e nos transformar em Highlanders da vida real. Porém, focando nas duas soluções mais midiáticas é possível perceber que pelo menos um montante de US$ 8 bilhões (R$ 38 bilhões) está direcionado em encontrar formas de fazer com que as pessoas se perpetuem para sempre na existência.

Questões filosóficas (estaríamos tentando brincar de Deus?) e bioéticas à parte, as soluções nos levam a questionar se não estaríamos indo longe demais. Além disso, será que vale a pena investir nisso ao invés de tentar melhorar de maneira prática a vida de seres humanos?

Em um exercício de imaginação, já que a ideia esbarra em várias barreiras concretas, o TecMundo resolveu calcular o quantas milhões de pessoas poderiam receber um salário-mínimo para viver com a quantia de grana que está indo para o desenvolvimento de ideias para alcançar a imortalidade.

PandemiaA pandemia deixou claro para o mundo os problemas relacionados à desigualdade social (Fonte: Mario Tama/Getty Images)

A renda básica

O nosso exercício de imaginação levou em consideração uma das propostas da Organização das Nações Unidas (ONU) que é a renda básica. A sugestão foi recomendada durante a pandemia e tomou força como pauta após o problema sanitário, quando vários países perceberam um aprofundamento da pobreza e níveis de desigualdade.

“Um novo contrato social precisa emergir desta crise que reequilibra as profundas desigualdades que prevalecem nas sociedades. Para ser franco: a questão não deve mais ser se os recursos para uma proteção social eficaz podem ser encontrados – mas como eles podem ser encontrados”, escreveu Kanni Wignaraja, diretora do escritório regional para a Ásia e Pacífico do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Ela defende que a solução pode beneficiar a economia ao inserir milhões de pessoas na economia, já que elas receberam uma verba que será reinvestida em serviços e produtos. Ela ressalta que em regiões mais pobres, como a Ásia, muitos países têm bastante dívida e por isso a engenharia financeira para tornar o programa possível é bastante grande. Mas é possível.

Pessoas carentesDe acordo com a ONU, a renda básica permitiria que cidadãos tivessem o mínimo para viver com dignidade (Fonte: Bruna Prado/Getty images)

Além de indicar tributações mais progressivas, acabar com isenções fiscais que não dão retorno e melhorar a eficiência dos governos, Wignaraja pontua que as nações devem “acabar com os subsídios, principalmente para os combustíveis fósseis, que dificultam o caminho para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente as metas de mudança climática. Isso beneficiaria a todos, ao mesmo tempo em que geraria recursos financeiros para uma renda básica”.

A renda básica pode ser universal, ou seja, distribuída a todos os habitantes independente da condição ou seletiva, onde são estabelecidas condições como obrigação de ter a carteira de vacina atualizada. “Tais condições seletivas não prejudicariam o objetivo principal de eliminar a pobreza e permitiriam que pessoas de baixa renda assumissem riscos calculados para tentar sair da pobreza”, destacou Kanni Wignaraja.

Fazendo as contas

Mas apesar de dar a indicação de que a renda universal pode ser uma boa saída para diminuir a pobreza, a ONU não indica de quanto teria que ser essa renda, já que as realidades dos países são distintas.

Por causa disso, no nosso exercício de imaginação nós consideramos a média salarial de 36 países que estão no balanço de salários-mínimos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Em relatório, a entidade aponta que em 2021 o mundo tinha uma média salarial de US$ 15 mil (R$ 72,9 mil) por ano, sendo que por mês isso dá aproximadamente US$ 1,2 mil (R$ 5,8 mil). Enquanto o Brasil tinha a segunda menor média (de US$ 5,2 mil por ano, ou R$ 25,9 mil por ano e R$ 2,1 mil por mês), os cidadãos de Luxemburgo recebiam US$ 27,7 mil (R$ 134,7 mil e R$11,2 mil por mês) de salário-mínimo anual.

Salário-mínimoO salário mínimo no Brasil só não é menor do que no México, de acordo com a OCDE (Fonte: Alexandre Schneider/Getty Images)

Partindo destes dados como base, confira, a seguir, como realizamos com a ajuda do ChatGPT o cálculo de quantas pessoas poderiam ser beneficiadas com a renda mínima universal com os US$ 8 bilhões investidos em pesquisas de imortalidade:

  • Com os US$ 8 bilhões, aproximadamente 555 mil pessoas pobres poderiam receber um salário mensal de US$ 1,2 mil por mês ao longo de 1 ano;
  • Com os US$ 8 bilhões, aproximadamente 1,1 milhão de pessoas pobres poderiam receber um salário mensal de US$ 1,2 mil por mês ao longo de 6 meses;
  • Com os US$ 8 bilhões, aproximadamente 7,2 mil pessoas poderiam receber renda básica no valor de US$ 1,2 mil por mês do nascimento até completar 73 anos de idade (expectativa de vida global em 2023);
  • Com os US$ 8 bilhões, cada um dos aproximadamente 11,6 milhões de brasileiros que estão abaixo da linha da pobreza receberia US$ 689,66 (R$ 3,3 mil) cada;
  • Com os US$ 8 bilhões, cada um dos aproximadamente 5,8 milhões de brasileiros vivendo na extrema pobreza receberia US$ 1,3 mil (R$ 5,8 mil) cada.



Paulistano, corintiano e pedestre desde 1993. Jornalista formado pela Universidade Federal de Mato Grosso, escrevo sobre games, tecnologia, ciência e cultura pop. Fã de Red Hot Chili Peppers e apaixonado por maracujá, pão de queijo e rap.