menu
Tecmundo
The BRIEF

Por que as gigantes da tecnologia estão investindo em fábricas de chips fora da China?

Diversas empresas tecnológicas estão mudando suas fábricas de semicondutores para outros países orientais e até mesmo para a Europa; entenda!

Avatar do(a) autor(a): Giovana Pignati

10/07/2023, às 06:00

Por que as gigantes da tecnologia estão investindo em fábricas de chips fora da China?

Fonte: Getty Images

Imagem de Por que empresas estão investindo em fábricas de chips fora da China? no tecmundo

A corrida tecnológica entre China e Estados Unidos ganhou mais um episódio. Pressionada pelo governo norte-americano, a Holanda anunciou mais um pacote de restrições para a venda de tecnologias e maquinários de semicondutores para a China.

Desde meados de 2022, grandes corporações como Intel, TSMC e Samsung divulgaram esforços para mudar a localização de suas fábricas. Como uma alternativa à China, as empresas estão dando preferência a se instalar em outros países da Ásia, como Japão, Taiwan e Coreia do Sul, além de alguns territórios europeus, como França, Alemanha e Polônia.

A disputa econômica entre China e Estados Unidos ganhou novos capítulos nesta semana.A disputa econômica entre China e Estados Unidos ganhou novos capítulos nesta semana.

A migração dessas fábricas, antes localizadas em território chinês, se deu devido ao empenho dos EUA em impedir os avanços tecnológicos da República Popular da China. Através da imposição de sanções, a nação norte-americana está pressionando países e gigantes da tecnologia a cortar relações comerciais com os chineses.

Para entender melhor como este conflito começou e quais são as suas consequências para o mercado internacional, é preciso explicar como a disputa começou.

A guerra dos Chips 

Em 2020, a pandemia de covid-19 abalou as cadeias produtivas de semicondutores. Considerando que grande parte das fábricas destes dispositivos estavam concentradas na China, as restrições do lockdown reduziram ou interromperam as produções de chips — diminuindo a quantidade de produtos disponíveis no mercado.

Devido às restrições do lockdown durante a pandemia de covid-19, a China fechou temporariamente várias fábricas — reduzindo a produção global de chips.Devido às restrições do lockdown durante a pandemia de covid-19, a China fechou temporariamente várias fábricas — reduzindo a produção global de chips.

No entanto, enquanto as fábricas estavam produzindo menos, a demanda global por computadores e periféricos crescia de maneira expressiva devido à explosão do home office e do ensino à distância.

Em meio à crise, os Estados Unidos ainda impuseram uma série de restrições para países que se relacionassem financeiramente com a China — sobrecarregando as fábricas localizadas na Coreia do Sul e no Taiwan. Diante deste cenário, o país asiático precisou se reinventar e passou a investir em produtoras nacionais.

As tensões comerciais China vs EUA 

A tensão entre as principais potências mundiais não é novidade, mas se intensificou em meados de 2018,  com a evolução da tecnologia. Sob a acusação de que a China estaria roubando sua propriedade intelectual, os Estados Unidos decidiram bloquear a importação de produtos e profissionais norte-americanos para a nação chinesa.

Dessa maneira, os EUA estabeleceu sanções a todos os produtos que tivessem tecnologia norte-americana, inclusive aqueles que fossem comercializados por empresas em outros países, impedindo que fizessem parte da cadeia de produção chinesa.

Os chips são fundamentais para a produção de diversos produtos tecnológicos, desde geladeiras, computadores e smartphones.Os chips são fundamentais para a produção de diversos produtos tecnológicos, desde geladeiras, computadores e smartphones.

Este é o caso da multinacional holandesa ASML, a maior fornecedora de sistemas de litografia para a indústria de semicondutores no mundo. Pressionados pelo governo norte-americano, a Holanda anunciou novas sanções que irão proibir a venda de maquinários para a China.

As novas regras visam atingir a ASML que possui a RPC como um de seus principais clientes. No último ano, 34% de sua renda veio de acordos com o país comandado por Xi Jinping. Para o CEO da ASML, Peter Wennink, as restrições apenas servem de incentivo para a China intensificar seus esforços em busca da autossuficiência. 

Resposta da China

Em contrapartida, nesta segunda-feira (3) a China anunciou que restringirá a exportação de dois metais essenciais para a fabricação de chips a partir de 1º de agosto. O gálio e o germânio são matérias-primas fundamentais para a confecção de uma série de produtos, desde semicondutores de computador a painéis solares. 

Ambos os metais são considerados cruciais para a economia da Europa e possuem a China como maior produtora mundial e uma das principais exportadoras. Com esta nova medida, os exportadores deverão solicitar uma “permissão especial do estado” para enviar os produtos para fora da China.

As consequências para o mercado internacional

A disputa comercial entre os Estados Unidos e a China está interferindo em toda a cadeia global da produção de semicondutores. Enquanto os EUA pressionam outros países para fechar as relações econômicas com Pequim, a nação asiática está dificultando o acesso a materiais fundamentais para a economia mundial.

Além das sanções, a estratégia dos Estados Unidos é transferir as fábricas das empresas para o país de origem, também conhecido como reshoring, através de subsídios federais. Outros países da Ásia e Europa adotaram políticas similares, visando atrair as operações.

Os chips produzidos nos Estados Unidos podem ter custos até 50% maiores do que os produzidos no Taiwan — devido aos direitos trabalhistas do país.Os chips produzidos nos Estados Unidos podem ter custos até 50% maiores do que os produzidos no Taiwan — devido aos direitos trabalhistas do país.

No entanto, os custos de produção nos EUA aumenta significativamente o valor desses produtos. Em 2022, o fundador da TSMC disse que o custo de fabricar os chips em solo norte-americano é 50% maior do que no Taiwan. 

Diante deste cenário, empresas e governos deverão entrar em acordo para achar um meio-termo que mantenha o interesse das empresas em se instalarem nos Estados Unidos, visto que, o aumento do custo da produção poderá interferir diretamente no preço dos produtos, inflacionando mais ainda o mercado de semicondutores.

Como o Brasil pode se destacar?

O Brasil se tornou uma das novas frentes da guerra entre Estados Unidos e China, sendo disputado entre as duas grandes potências. Nos últimos meses, Washington sinalizou diversas vezes o seu interesse em fomentar o desenvolvimento do mercado tecnológico em terras brasileiras — sob restrições de negócios com o país asiático.

Em sua visita oficial à China, o governo brasileiro fechou 15 acordos com o país asiático.Em sua visita oficial à China, o governo brasileiro fechou 15 acordos com o país asiático.

Por outro lado, em sua visita oficial à China, realizada em abril deste ano, o presidente Lula fechou 15 acordos com Xi Jinping para diversos setores de tecnologia — incluindo chips, 5G, internet das coisas (IoT) e mais.

Apesar de não ter problemas diretos com os norte-americanos, atualmente a República Chinesa é a principal parceira econômica do Brasil. Portanto, o atual governo já se posicionou favorável à construção de uma fábrica chinesa de semicondutores em solo brasileiro.



Avatar do(a) autor(a): Giovana Pignati

Giovana Pignati

Especialista em Redator