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Que fim levou a Telerj, a antiga operadora de telefonia do Rio de Janeiro?

Empresa carioca foi a pioneira da telefonia celular no Brasil, mas acabou fragmentada após privatização; relembre!

Avatar do(a) autor(a): Nilton Cesar Monastier Kleina

31/05/2025, às 09:00

Que fim levou a Telerj, a antiga operadora de telefonia do Rio de Janeiro?

Por muitos anos, o sistema de telefonia do Brasil era composto de uma empresa estatal nacional, a Telebras, que gerenciava as operações de operadoras regionais ou estaduais. Desse sistema, nasceram nomes como Telesp, Telepar, Telemig e Telamazon, entre tantas outras.

No caso do Rio de Janeiro, a companhia era a Telerj, nascida junto de um importante momento político do estado e responsável por um acontecimento histórico do país envolvendo telefones celulares

Nas últimas décadas, porém, esse nome passou a ser conhecido apenas por outros motivos para além dos serviços prestados. A seguir, confira o que foi exatamente essa companhia e o que aconteceu com ela no mercado.

A origem da Telerj

A Telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro, ou Telerj, é uma empresa estatal de fornecimento de sinal e serviços telefônicos fundada em 1976 — ano importante para o Rio de Janeiro, quando ele oficialmente se junta ao estado da Guanabara.

Logo no início, a companhia já se responsabiliza pelos serviços telefônicos de várias cidades da região, que antes usavam os serviços da Companhia Telefônica Brasileira (CTB). Apesar do nome, a CTB começa como subsidiária de um conglomerado canadense, a Light, que também fornecia serviços de energia elétrica, gás e transporte via bondes e era uma das maiores empresas de telefonia do país.

Além disso, a Telerj aos poucos incorpora outras localidades ao catálogo de cobertura ao absorver operadoras menores. É o caso de regiões como Barra Mansa, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti e Valença. Já em 1989, ela absorve a Companhia de Telefones do Rio de Janeiro (CETEL), que cuidava da Zona Norte, Zona Oeste e região das ilhas.

Durante esse período de atuação, a Telerj fazia parte do sistema Telebrás. Essa é a estatal de nível nacional em telecomunicações, responsável por gerenciar as regionais e determinar as diretrizes desses serviços no país.

A Telerj e o celular no Brasil

O momento de maior destaque da Telerj a nível nacional aconteceu em 30 de dezembro de 1990. A data é conhecida como a chegada oficial da tecnologia de telefonia celular ao Brasil, hoje um serviço tão difundido e indispensável.

Foi neste dia que uma ligação móvel foi registrada do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, para um prédio público em São Paulo. Do lado carioca estava Joel Marciano Rauber, Secretário Nacional de Comunicações, enquanto em um telefone fixo paulista estava o Ministro da Infraestrutura, Osíris Silva.

Após essa chamada, a recém inaugurada Telerj Celular instala 17 estações de rádio base e passa a fornecer o primeiro serviço nacional de telefonia móvel. Apesar da capacidade de 10 mil aparelhos, a rede só precisou atender 667 aparelhos inicialmente — esse era o total de celulares compatíveis e em funcionamento na área de cobertura. Em um ano, porém, esse número já saltou para 6,7 mil dispositivos.

Naquele período, eram poucos os modelos disponíveis para compra: o Motorola PT-550 é considerado o primeiro celular vendido no Brasil, enquanto o NEC EZ-2400-A foi o aparelho utilizado no teste da Telerj e depois também comercializado.

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O pioneiro celular da Motorola. (Imagem: Reprodução/O Estado de S. Paulo)

A Telerj se destacou também no período pelo papel na ampliação e melhoria da infraestrutura de telefonia para se preparar para a conferência mundial do meio ambiente Eco-92, que ampliou de forma considerável a demanda na cidade. O evento foi também um dos marcos iniciais para o estabelecimento da internet no Brasil.

O rápido fim da Telerj

A mudança na trajetória da Telerj coincide com um período de nascimento de várias empresas de telecomunicações e o fim de várias outras no Brasil. É a privatização do setor de telefonia, que aconteceu em 1998.

No processo de desmembramento da Telebras, os contratos foram separados em telefonia fixa e telefonia móvel, que poderiam ser adquiridos em leilão por compradores separados — e foi o que aconteceu com a empresa carioca.

A faixa de telefonia celular foi adquirida pela Telefônica Celular, braço nacional do conglomerado espanhol que também é dono da Vivo. Já no caso da telefonia fixa, a história é um pouco mais longa. A Telerj fazia parte do grupo Tele Norte Leste, que concentrava 16 operadoras estaduais. O bloco mudou de nome para Telemar e teve como acionistas a Andrade Gutierrez e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A Telemar é consolidada como uma só empresa em 2001 e passa a ofertar também serviços como internet banda larga e call center. Anos depois, uma nova mudança de nome: Oi, a divisão de telefonia móvel da Telemar, fica tão popular que rebatiza toda a companhia.

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Um cartão telefônico informando a mudança de marca. (Imagem: Reprodução/Acervo Oi Futuro)

A marca Telerj deixa de ser usada oficialmente em ambas as frentes a partir de 1999. Deste ponto em diante, o nome só é usado em outros contextos: uma região de ocupação no Engenho Novo ficou conhecida como “favela da Telerj”, por antes ter prédios agora abandonados da companhia. 

Além disso, o “trote da Telerj” foi uma brincadeira feita com um advogado que ligou para o número errado por acidente achando estar falando com a operadora e, mesmo sem saber, viralizou antes mesmo desse termo existir. 

Quer saber o que aconteceu com a Embratel, outra empresa que começou como estatal e virou uma referência nas telecomunicações do Brasil? Confira este especial feito pelo TecMundo!



Jornalista especializado em tecnologia, doutor em Comunicação (UFPR), pesquisador, roteirista e apresentador.