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O que é Algoritmo P, citado por Felca como risco para crianças e adolescentes nas redes

Falha no sistema das redes sociais deixa caminho livre para pedófilos criarem uma rede de abuso online nas plataformas

Avatar do(a) autor(a): Felipe Vitor Vidal Neri

18/08/2025, às 13:30

Atualizado em 19/08/2025, às 09:42

O que é Algoritmo P, citado por Felca como risco para crianças e adolescentes nas redes

O início de agosto foi marcado pelo vídeo “Adultização”, do YouTuber Felca, que expôs conteúdos de exploração sexual com menores e resultou na prisão do influenciador Hytalo Santos. Contudo, as denúncias também revelaram outro problema silencioso: o suposto Algoritmo P e sua contribuição para redes de pedofilia.

Pouco conhecido, mas presente na internet, o algoritmo P é um tipo de falha sistêmica. Com ele, pedófilos e usuários mal-intencionados têm fácil acesso a conteúdos que sexualizam ou mostram crianças inocentes como alvo. Por trás, há uma oculta camada de conteúdos para satisfazer sexualmente os criminosos.

O vídeo do youtuber Felca voltou a demonstrar essa falha, e aponta precedentes perigosos que as donas das redes sociais não sabem, ou fingem não saber sobre sua existência.

O que é o algoritmo P?

Como dito acima, o algoritmo P pode ser entendido como uma falha no próprio sistema das redes sociais. Para usuários comuns, o modo de funcionamento é simples. Você curte alguma publicação, entra no perfil, ou demonstra interesse em certo tipo de conteúdo, e segue para o próximo. 

Adiante, baseado nos últimos dados coletados, a rede social entenderá que você tem preferência por esse conteúdo recententemente consumido, e o exibirá com maior frequência. Esse processo, popularmente, foi resumido no termo “algoritmo”.

Pense que você é um fã de carros, e de repente, a rede social te recomenda um vídeo sobre uma Ferrari. Você assiste, curte e se inscreve no perfil. Os próximos vídeos recomendados curiosamente serão sobre carros, Ferraris, marcas similares, etc. Em dez minutos, a plataforma vai encher seu perfil com sugestões desse mesmo conteúdo.Esse é o modo de funcionamento padrão em basicamente qualquer rede social, como Instagram, X e YouTube. 

Contudo, o algoritmo P tem como alvo as crianças, sejam elas sexualizadas ou não. O funcionamento é o mesmo: uma curtida, começar a seguir, recomendações de mais vídeos e, eventualmente, ligações com pedófilos.

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Vídeo do YouTuber Felca já tem pouco mais de 45 milhões de visualizações (Imagem: Felca/reprodução)

No vídeo do youtuber Felca, ele criou um perfil do zero e começou a seguir esses simples passos. Com poucas curtidas, o algoritmo condicionou todo um ambiente propício para predadores sexuais, que se beneficiam pela fraqueza do sistema de recomendações.

Vale notar que o algoritmo P é uma brecha no algoritmo geral das redes sociais. Essas plataformas usam esse tipo de sistema para captar a atenção do usuário em assuntos ordinários que ela possa gostar, mas acaba beneficiando pedófilos pela falta de segurança envolvida.

A venda de conteúdos ilegais com crianças

O algoritmo P condiciona essas recomendações desenfreadas por crianças e adolescentes, e quem se beneficia disso são os pedófilos. Assim, eles não precisam de um canal próprio para assistir aos conteúdos, e basta condicionar o algoritmo padrão das redes sociais para mostrar conteúdos sugestivos.

Na verdade, o que os criminosos fazem é usar esse algoritmo para se conectar com outros pedófilos. Em diversos comentários de vídeos ou imagens de crianças, inúmeros perfis escrevem palavras como “trade”. Do inglês, troca, essa é uma sinalização de que aquele usuário possui conteúdo de pornografia infantil para trocar com outros.

Uma criança vendo um celular com a tela ligada em um local escuro.
Predadores sexuais também se aproximam das vítimas em jogos ou por meio de mensagens (Imagem: GettyImages)

Essas contas podem ter descrições com links na bio, que geralmente levam o usuário a algum canal do Telegram. Lá, são feitas transações ou trocas de conteúdos envolvendo crianças. Para assegurar que aquela pessoal realmente tem esses conteúdos, os criminosos usam a sigla “CP” (Child Porn, ou pornografia infantil, do inglês).

Denúncias contra abuso infantil crescem após vídeo

Em um efeito cascata decorrente das denúncias do vídeo de Felca, a ONG SaferNet observou um aumento de 114% nas denúncias de material explícito envolvendo menores de idade. Mais de 1.600 denúncias únicas foram reportadas pela organização no período entre 6 de agosto e 12 de agosto.

Essas denúncias únicas são enviadas de forma anônima via internet e, depois, encaminhadas ao Ministério Público Federal. Os agentes do órgão realizam uma análise do conteúdo para identificar indícios de crime, e logo depois são abertas investigações para apurar o tema.

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Exposição antecipada de crianças em redes sociais se tornou um prato cheio para pedófilos (Imagem: GettyImages)

“Felca, em seu vídeo, apontou duas questões que a SaferNet vem denunciando sistematicamente desde o ano passado: o uso do Telegram como plataforma para distribuir e vender os vídeos produtos dos abusos e exploração de crianças, e o uso por esses criminosos de acrônimos, siglas e emojis para falar desse tipo de conteúdo sem chamar atenção, tanto ao vender as imagens dos abusos, quanto para aliciar novas vítimas”, explica o presidente da SaferNet, Thiago Tavares.

Plataformas fazem “vista grossa”?

Em 5 de agosto, antes mesmo da publicação do vídeo, a eSafety Commissioner, entidade reguladora independente da Austrália, acusou grandes redes sociais de fazer “vista grossa” para materiais de abuso infantil em suas plataformas.

Um relatório emitido pela comissão aponta que o YouTube e a Apple falharam ao rastrear o número de relatos sobre abuso sexual infantil que aparecem em seus sistemas. A entidade determinou que Apple, Discord, Google, Meta, Microsoft, Skype, Snap e WhatsApp relatem as medidas que tomam para lidar com exploração e abuso infantil no país.

O Google diz não haver espaço para esses conteúdos em suas plataformas e usa uma série de técnicas para identificar e remover esses materiais. A Meta diz que proíbe vídeos gráficos e dessa natureza.

A Austrália ainda acordou um pacote e o YouTube será a primeira rede social banida para menores de 16 anos no país. Os jovens ainda poderão assistir vídeos, mas não terão permissão legal para criar contas na rede social.

Para saber mais informações sobre o tema de adultização e a importância da privacidade na internet, acompanhe o TecMundo.



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Felipe Vitor Vidal Neri

Especialista em Redator

Redator de tecnologia com foco no segmento de hardware. Pelo TecMundo, atuo na elaboração de notícias, especiais, entrevistas e análise de produtos, como processadores e placas de vídeo.